7 de dez. de 2011

ISRAEL: Ex-presidente, Moshe Katsav, foi para a prisão

ISRAEL
Ex-presidente, Moshe Katsav, foi para a prisão
O ex-chefe do Estado cumprirá a condenação, de sete anos, por estrupo. Horas antes, ao sair de sua casa, Katsav afirmou que estavam condenando um inocente e que "algum dia os israelenses compreenderão que hoje foi enterrado um homem vivo".

Foto: Edi Israel/Associated Press

O ex-presidente de israelense Moshe Katsav fala aos jornalistas ao deixar sua casa em Kiryat, no centro de Israel, para começar a cumprir uma pena de prisão de sete anos por estupro

Postado por Toinho de Passira
Fontes:Stern, Portal Terra, Publico, The New York Times

Nesta terça-feira, um dia após o seu aniversário de 66 anos, Moshe Katsav, ex-presidente de Israel, recebeu em sua modesta casa, em Kiryat Malachi, Israel, uma cidade de imigrantes, netos e amigos e conhecidos. Os telefones tocaram initerruptamente. Os vizinhos o abraçaram comovidos e Rabinos deram-lhe bênçãos.

O velho político não estava comemorando seu aniversário. Ele estava aproveitando o seu último dia de homem livre em sua própria casa. Nesta quarta-feira, ele apresentou-se na prisão de Maasiyahu na cidade de Ramle, ao sul de Tel Aviv, para começar a cumprir uma pena de sete anos devido a condenações por estupro.

Katzav foi considerado culpado de violentar duas funcionárias no período em que era ministro do Turismo em 1998, de assédio sexual, de coerção de testemunhas e de obstruir a justiça.

O jornalista Ethan Bronner, do The New York Times, que o entrevistou na véspera de ir para a prisão, diz que Katsav parece falar a partir do âmago do seu ser, quando ele afirma ser inocente de todas as acusações. Lágrimas escorriam na ocasião “quando ele se sentou em sua mesa de jantar contando os detalhes do seu caso em uma entrevista de duas horas”. “Ele lamentou também por ter dedicado toda a sua vida, a um sistema, fala da democracia Israelense, que agora o condenava injustamente.”

"Quando eu era presidente, recebi 10 mil pedidos de perdão", disse ele. "Todos eles afirmaram ter sido vítimas de injustiça. Eu sinto muito por ter rejeitado essas alegações. Agora, acredito que alguns deles eram realmente inocentes."

Katsav entrou Prisão Maasiyahu na cidade de Ramle, ao sul de Tel Aviv, no início desta quarta-feira. Noticiou-se que foi colocado em uma ala especial, juntamente com outros judeus religiosos praticantes. É bem possível, disse ele, que entre seus colegas de prisão estarão alguns cujo perdão ele rejeitou quando era presidente de 2000 a 2007.

Sobre a insinuação que ele poderia se suicidar no presídio, reagiu com veemência, dizendo que não iria deixar "os conspiradores vencer". Referia-se a imprensa israelense, políticos, policiais e juízes que ele acredita que são os culpados por aquilo que ele chama de uma terrível injustiça.

"Estou prestes a pagar o preço por algo que eu não fiz", disse ele. "Eu abracei e beijei mulheres, mas não de maneira inadequada. Nós nos tornamos como a Arábia Saudita. Um abraço é uma ofensa sexual. "

Foto: Rina Castelnuovo/The New York Times

O ex-presidente Moshe Katsav passou suas últimas horas como um homem livre, em casa, com sua família em Kiryat Malachi, Israel

Porém, o poder judiciário israelense discorda firmemente desses argumentos. Ultimamente ele foi condenado por um colegiado composto de três juízes, da corte superior, não por abraços, mas devido a duas acusações de estupro envolvendo força e dominação das vítimas. No mês passado, outro colegiado, o Supremo Tribunal rejeitou definitivamente o seu recurso.

"Uma profunda tristeza desce sobre o Estado de Israel, quando se constata que uma pessoa que serviu como ministro do governo, um vice-primeiro-ministro e presidente perpetrados atos como esses," sentenciou a Suprema Corte na sua decisão. "É um espetáculo dos mais difíceis ver um homem que já foi símbolo do país indo para a cadeia." – concluiu

Muitos em Israel dizem que, apesar da vergonha que de ver que homem que ocupou tão altos cargos tenha sido condenado por tais atos, sentem, porém, orgulho porque o caso acabou demonstrando que ninguém está acima da lei.

Mas os defensores de Katsav, especialmente nesta cidade centro-sul, onde no passado ele tomou posse como o mais jovem prefeito de Israel, acreditam que ele foi vítima de preconceito étnico e de classe.

Nascido no Irã e trazidos para Israel ainda criança, chegou a viver com a família humilde em uma barraca e, em seguida, em uma cabana de madeira. Depois de ter estudado na Universidade Hebraica em Jerusalém, ele projetou-se rapidamente, especialmente depois que o Partido Likud chegou ao poder no final de 1970.

“O fato é que eu sou de um país muçulmano e de uma cidade em desenvolvimento", disse ele, usando o termo para as áreas mais pobres na periferia urbana do país. A elite tradicional de Israel tem raízes europeias e vive em centros urbanos como Tel Aviv.

Alguns dos defensores de Katsav têm comentam que tanto o colegiado original de juízes que o condenou, quanto os integrantes da Suprema Corte que rejeitou sua apelação eram compostas de duas mulheres e um árabe israelense.

Em 2008, foi-lhe oferecido um acordo judicial em que ele admitiria a conduta inadequada muito aquém de estupro o que o livraria de acabar na prisão. Mas ele disse na terça-feira que se tivesse aceitado o acordo seria a admissão do delito, então decidiu lutar pela sua inocência nos tribunais.

Poucos jornalista acreditam na sua insistência de inocência. A maioria o acusa de ser orgulhoso e tolo ao ter recusado a oferta. Outros, como Sima Kadmon de Yediot Aharonot, chegou a chamá-lo de delirante.

"Ele já provou que vive em um mundo próprio, no qual verdade e mentira se misturam, em que as mulheres são sedutoras e manipuladora, os jornalistas são tendenciosos e maliciosos e os juízes são mentirosos", escreveu ela comentando a decisão da Corte Suprema a rejeitar a apelação.

Na entrevista na terça-feira Moshe Katsav encaixou-se nessa descrição. Ele argumentou que todos os setores da sociedade israelense tinha participado de um esforço conjunto para destruí-lo. A mídia festejou sua condenação. Muitos na polícia desprezava por suas críticas de algumas de suas ações recentes. Seus colegas políticos temiam sua popularidade - como ele acabou a sua presidência, ele era um candidato forte para primeiro-ministro. E os juízes resolveram acreditar na palavra de uma mulher que ele havia demitido.”

Um vizinho, Sammy Vaknin, disse aos jornalistas que Katsav representou o estado da mesma forma que o hino nacional e a bandeira o fazem. Enviá-lo para a prisão, “mesmo que tenha feito algo de errado" - é como atirar a bandeira no lixo.

"Podemos muito bem entregar o país aos palestinos", disse o Sr. Vaknin.

Fontes do Ministério de Segurança Interna revelaram, que Katsav vai partilhar a cela com o antigo ministro Shlomo Benzri, com o propósito de “lhe facilitar o processo de adaptação”. Ser-lhe-á ainda atribuído um guarda prisional em especial, com a tarefa de garantir que o antigo Presidente não tentará suicidar-se.

Após cumprir um quarto da sentença, Katsav poderá requerer a liberdade condicional até ao fim do termo da pena ou mesmo solicitar a redução da mesma, de acordo com um comunicado dos serviços prisionais de Israel.

Foto: Uriel Sinai/Getty Images

Moshe Katsav, ex-presidente de Israel, abraça-se com seu filho na entrada da prisão de Maasiyahu, nesta quarta-feira.


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