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16 de out. de 2012

CUBA: Nova lei de migração permite, a maioria dos cubanos, viajar ao exterior sem pedir autorização do governo

CUBA
Nova lei de migração permite, a maioria dos cubanos, viajar ao exterior sem pedir autorização do governo
O governo de Raúl Castro divulgou modificações na lei de migração cubana. A medida só entrará em vigor, no início do próximo ano, faz restrições a alguns grupos, mas é considerada uma abertura espetacular do regime por permitir, teoricamente, a possibilidade da saída da maioria do cubanos para o exterior, sem necessidade de autorização do governo. A permissão para sair da ilha é exigida desde os primeiros anos do regime de Fidel Castro, na década de 1960. Para ter o pedido analisado o cidadão paga US$ 150, um valor alto em um país no qual o salário mensal médio equivale a US$ 20 e que pode ser negada sem nenhuma explicação.


Detalhe da primeira página do jornal cubano noticiando a reforma da migração

Postado por Toinho de Passira
Fontes: Veja, Granma, G1, Twitter – Yoani, El Heraldo

O anúncio sobre o fim da exigência do visto de saída para viagens ao exterior em Cuba foi recebido como a derrubada de uma das maiores barreiras a separar muitos cubanos do contato com o resto do mundo. No entanto, a chamada "atualização da política migratória", anunciada nesta terça-feira pelo jornal oficial Granma e com início previsto para 14 de janeiro do próximo ano, limita a saída de médicos, militares e cientistas, em uma tentativa de evitar o chamado ‘roubo de cérebros’ da ilha. Além disso, o benefício será negado a quem tiver pendências na Justiça e "quando razões de defesa e segurança nacional assim o justificarem" - o que deve limitar a saída da maioria dos opositores do regime.

Por meio de um editorial publicado nesta terça-feira no Granma, o governo de Raúl Castro prometeu se defender das ‘políticas de Washington que favorecem o roubo de cérebros, para roubar de Cuba os recursos humanos imprescindíveis para o desenvolvimento econômico, social e científico do país’.

O editorial afirma que, desde o início da ‘revolução’, mais da metade dos 6.000 médicos emigraram principalmente para os Estados Unidos. Um grande número de engenheiros também teria fugido do país.

“Não podemos esquecer que somos o único país do mundo a cujos cidadãos é permitido trabalhar nos Estados Unidos sem qualquer tipo de visto, em virtude da criminosa Lei de Ajuste Cubano, que favorece o tráfico de pessoas”, disse Raúl Castro em 23 de dezembro de 2011, declaração lembrada pelo Granma nesta terça-feira. O ditador cubano se referia a um programa criado pelos EUA em 2006, que oferece um visto americano para qualquer profissional de saúde cubano que desertar do regime durante uma missão no exterior.

Foto postada por Yoaní no Twitter mostra a blogueira cruzando os dedos enquanto lê a notícia sobre a nova lei migratória
“O caráter desumano dessa política prejudica a possibilidade de emigrar de forma legal, ordenada e segura, e tem a clara intenção de converter os cubanos que desejam se estabelecer em outros países em opositores políticos e um fator de desestabilização interna”, diz o Granma. Os Estados Unidos exigem um visto para viagens turísticas legais, mas os cubanos que conseguirem chegar à costa podem ficar no país e, depois de um ano, buscar residência permanente.

>A "atualização da política migratória" prevê o fim da exigência do visto de saída, que custa 150 dólares. Além disso, não será mais necessário entregar uma carta convite do país para onde o cidadão cubano deseja viajar, outro procedimento exigido pelo governo para habitantes da ilha irem ao exterior. Segundo o Granma, "será exigida apenas a apresentação de passaporte atualizado e visto do país de destino", quando este for requerido.

A blogueira cubana Yoani Sanchéz, pelo Twitter, comemorou o anúncio da nova Lei Migratória, no entanto, se mostrou cética quanto à possibilidade de poder deixar e retornar à ilha já que, segundo ela, teria sido informada por amigos de que consta numa “lista negra” do governo.

“Ainda que eu tenha passaporte, ele não serviria com a nova Lei Migratória. Necessitaria pedir outro, que me pode ser negado”, escreveu.

No início do mês, Yoani e os jornalistas independentes Reinaldo Escobar, seu marido, e Agustín López, foram detidos, durante 30 horas quando tentavam chegar à cidade de Bayamo para assistir ao julgamento do espanhol Ángel Carromero. (Carromeno é acusado de “homicídio imprudente” pela morte dos opositores Oswaldo Payá e Harold Cepero em um acidente de trânsito ocorrido em julho.)

Yoani, por 20 vezes seguidas (cinco delas para o Brasil), teve negada permissões para que deixasse o país, sem nenhuma explicação.

11 de fev. de 2011

OPINIÃO - Uma revolução puramente egípcia - Rogério Simões

OPINIÃO
Uma revolução puramente egípcia
“Em seus últimos pronunciamentos, Mubarak apresentou-se como um patriota. Lembrando seu passado de militar, defensor da integridade política e territorial do Egito, inclusive durante a ocupação israelense da Península do Sinai, ele disse ser um servo da pátria. O que os milhões de manifestantes nas ruas do país lhe respondiam, entretanto, era que a pátria não precisava mais de seus serviços’.

Foto: Getty Images

Hosni Mubarak , fim dos 30 anos de ditadura

Rogério Simões
Fonte: Blog do Editor – BBC Brasil

O presidente Hosni Mubarak renunciou. O líder de um dos mais autoritários regimes do Oriente Médio não sobreviveu aos 18 dias de protestos nas ruas do Egito, que atraíram milhões de pessoas. O movimento não contou com líderes claros ou tendências políticas definidas. Reuniu muçulmanos, cristãos e diferentes ideologias. A banida Irmandade Muçulmana reforçou o coro da população insatisfeita, e o ex-chefe da agência da ONU para energia atômica Mohamed Elbaradei chegou a apresentar-se como um possívél líder das massas. Mas o movimento não queria bandeiras ou representantes específicos. Seu objetivo era simples: derrubar o regime, pôr um fim no modelo político baseado na repressão de vozes populares. Sua reivindicação principal era a saída do líder da ditadura, e o que parecia impossível foi obtido diante dos olhares do mundo todo.

Hosni Mubarak, um ex-comandante da Força Aérea do Egito que acabou chefiando o país por três décadas, não escolheu exatamente a carreira de ditador. Quando, em uma de suas falas recentes, lembrou que nunca quis o cargo que ocupava, Mubarak não estava exatamente mentindo. O que o levou ao posto foi o assassinato de Anwar Sadat por radicais islâmicos, fato que deixou a Presidência no colo de Mubarak. Sua obrigação, em um momento extremamente delicado para o país, era preservar um regime que já existia desde os anos 50. Ao longo de 30 anos, entretanto, a figura de Mubarak ganhou força, e seu plano de passar o poder para seu filho indicava uma característica mais personalista da ditadura. Mubarak, que se utilizou de uma brutal polícia repressora e, segundo denúncias, possui uma fortuna bilionária no exterior, foi assumindo com o passar do tempo todas as credenciais de um típico déspota.

Em seus últimos pronunciamentos, Mubarak apresentou-se como um patriota. Lembrando seu passado de militar, defensor da integridade política e territorial do Egito, inclusive durante a ocupação israelense da Península do Sinai, ele disse ser um servo da pátria. O que os milhões de manifestantes nas ruas do país lhe respondiam, entretanto, era que a pátria não precisava mais de seus serviços. O tempo havia mudado, as necessidades eram outras, e o Egito entrara numa nova fase da sua história. O próprio Exército, enviado inicialmente para conter os protestos, foi forçado a admitir a legitimidade de suas reivindicações. A população disse continuar admirando seus militares, que tanto fizeram pelo país no passado, mas deixou claro que um novo regime deveria nascer das manifestações de rua.

O futuro do Egito ainda está para ser definido, e entre os espectadores mais atentos estão três governos com passados e agendas políticas muito diferentes. Estados Unidos, Israel e Irã gozavam de um certo conforto com o regime de Mubarak. Com ele Israel estabeleceu uma paz essencial para a segurança de grande parte do seu território. Washington tinha em Mubarak o maior aliado no mundo árabe, que ao mesmo tempo controlava o avanço fundamentalista e garantia estabilidade a Israel. Já o Irã, adversário de nações sunistas como o Egito, compartilhava com Mubarak a crença de que a democracia plena não era uma alternativa viável para a região. Agora os três países precisam, por motivos diferentes, adaptar-se à nova realidade.

O regime islâmico do Irã, apesar de ver com bons olhos o possível avanço no Egito de ideologias contrárias ao Ocidente, vai combater a ideia de que a voz do povo merece ser sempre ouvida. Por isso mesmo, promoveu a interrupção dos sinais do canal persa da BBC, que vinha fazendo cobertura extensiva dos acontecimentos no Cairo. Os Estados Unidos tentarão manter a aliança com os militares egípcios, que são o alicerce do poder no país, enquanto Israel torce para que o possível estabelecimento da democracia não permita avançar no vizinho um sentimento hostil ao Estado judeu. O que os recentes acontecimentos no Cairo mostram, no entanto, é que as potências estrangeiras terão de acatar a vontade dos egípcios e de suas instituições. Apesar de instigado pelos acontecimentos da Tunísia, que semanas antes derrubou o seu próprio ditador, o movimento iniciado em 25 de janeiro, com a ajuda da internet e suas redes sociais, foi uma revolução puramente egípcia. Uma nova geração de cidadãos foi às ruas pela derrubada de um regime que deixara de atender às suas aspirações, sem copiar ninguém ou atender ao chamado de algum líder. Qualquer que seja o caminho a ser tomado pelo Egito, ele parece estar sendo traçado de forma espontânea e independente.

Foto: Getty Images

O primeiros fogos de artifícios iluminam a praça Tahrir, no Cairo, comemoram,  após 30 anos, a primeira noite de liberdade


*Acrescentamos subtítulo, foto e legenda ao texto original

9 de fev. de 2011

O ainda imprevisível futuro do Egito

EGITO
O ainda imprevisível futuro do Egito
A ONU calcula que, desde o começo dos protestos, cerca de 300 pessoas foram mortas. Grupos oposicionistas rejeitaram os comentários feitos na noite de terça-feira pelo vice-presidente egípcio, Omar Suleiman, de que os protestos podem levar a um golpe de Estado.

Charge : CLAY BENNETT- Chattanooga Times Free Press (EUA)

Postado por Toinho de Passira
Fontes: BBC Brasil

Centenas de milhares de manifestantes voltaram a tomar as ruas da capital do Egito nesta quarta-feira no 16º dia seguido de protestos contra o presidente Hosni Mubarak.

Além de ocupar a Praça Tahir, o local que tem sido usado para os protestos diários no centro do Cairo, os manifestantes também realizam um protesto pacífico na rua do Parlamento egípcio, a poucos quarteirões de distância.

No Canal de Suez, a importante rota comercial entre o Mar Mediterrâneo e o Mar Vermelho a nordeste do Cairo, cerca de 6 mil trabalhadores estatais entraram em greve e há relatos de outras paralisações pelo país, segundo o correspondente da BBC no Cairo Jon Leyne.

Pelo menos uma pessoa foi morta em choques entre manifestantes e a polícia na cidade de Kharga, cerca de 500 km ao sul do Cairo.

Grupos oposicionistas rejeitaram os comentários feitos na noite de terça-feira pelo vice-presidente egípcio, Omar Suleiman, de que os protestos podem levar a um golpe de Estado.

Suleiman disse que a crise precisa terminar, afirmando que "não queremos lidar com a sociedade egípcia com ferramentas policiais".

No entanto, ele disse que, se o diálogo com os manifestantes falhar, a alternativa seria "a ocorrência de um golpe de Estado, o que significaria acontecimentos imprevisíveis, incluindo inúmeras irracionalidades".

A correspondente da BBC no Cairo Yolande Knell disse que no centro dos protestos iniciados no dia 25 de janeiro estava o fim da brutalidade empregada pelas Forças de Segurança, mas desde então muitos manifestantes vêm sofrendo repressão e sendo detidos sem acusação.

A ONU calcula que, desde o começo dos protestos, cerca de 300 pessoas foram mortas.

Knell afirma que os funerais destas pessoas vêm ocorrendo diariamente.

Na terça-feira, o vice-presidente americano, Joe Biden, disse durante conversa telefônica com Suleiman que a transição de poder no Egito deve produzir "progresso imediato e irreversível que represente as aspirações da população egípcia".

Mais cedo, a Casa Branca havia classificado de "particularmente contraproducentes" as declarações de Suleiman de que o Egito não estaria pronto para a democracia.

O editor para a América do Norte da BBC Mark Mardell disse que Biden vem telefonando diariamente para Suleiman e a última ligação foi a mais dura até o momento.

Ele disse que até agora as várias sugestões feitas pela administração americana vem sendo recebidas com comentários de má-vontade por parte do governo egípcio e pouca ação.

Os Estados Unidos pediram para que o Egito suspenda o estado de emergência, em vigor há 30 anos no país, e pare de perseguir jornalistas e ativistas.


8 de fev. de 2011

OPINIÃO: Al-Jazeera está ajudando a quebrar o silêncio

OPINIÃO:
Al-Jazeera está ajudando a quebrar o silêncio
O diretor-geral da rede de TV árabe, Al-Jazeera, fala da importância dos meios de comunicação moderna para inspirar multidões. Comenta sobre as dificuldades, agressões, prisões enfrentadas pela sua equipe, na cobertura da rebelião egípcia, inclusive com transmissões ao vivo e permanente da Praça Tahrir, no Cairo.

Foto: Emilio Morenatti/Associated Press

A cobertura da Al-Jazeera tem sido acompanhada em todo o Oriente Médio e está sendo criticada pelos simpatizantes de Mubarak. Os ditadores sempre pensam que a imprensa inventa revoluções. Os jornalistas só registram as revoluções quando elas já estão acontecendo.

Postado por Wadah Khanfar - Especial para o "Guardian"
Fontes: Folha de São Paulo, Guardian, Wikipedia, AFP, Al Jazeera

Faz quase um século que as fronteiras que hoje dividem o Oriente Médio foram traçadas. Alguns dos Estados que emergiram mais tarde viriam a defender a independência e o desenvolvimento social. Outros adotavam postura mais conservadora.

Mas, quase sem exceção, mantiveram um monopólio sobre a informação e a comunicação, tendo por base controle e censura da mídia. Por muitos anos, a dissidência, crítica ou mesmo a mais limitada exposição daquilo que acontecia por trás de portas fechadas foi reprimida, com o argumento de que "o momento não é esse".

Mas o controle dos governos sobre a informação já foi rompido. Ao longo dos últimos 15 anos, a mídia livre do Oriente Médio obteve sucesso gradual em se libertar do controle oficial e começou a refletir de maneira direta as ambições e frustrações dos moradores da região.

A Al-Jazeera foi a primeira rede regional a contestar o tabu da liberdade de informação. A postura teve preço alto, como conflitos contínuos com muitos regimes; o fechamento constante de nossas sucursais, de Bahrein a Marrocos; a detenção, tortura e até assassinato de nossos jornalistas; e a promoção de campanhas de boatos e difamações para macular nossa credibilidade.

A mais recente tentativa de nos silenciar surgiu na semana passada, quando fomos tirados do ar pelo Nilsat, um satélite controlado pelo governo do Egito. Esse rompimento do bloqueio de informação por meio da TV via satélite ganhou muita força com a difusão de novas tecnologias.

Foto:Tara Todras-Whitehill/Associated Press

Manifestantes egípcios ligados pelo “Face Book” na Praça Tahrir, no Cairo

Enquanto os Estados tentavam empregá-las a fim de reforçar seu controle, surgiram novas e inesperadas oportunidades -via internet, YouTube, Facebook e Twitter, a juventude da região encontrou voz comum.

Celulares dotados de câmeras e vídeos amadores permitem que o mundo veja aquilo que está além do alcance de equipes de TV. Com um simples cartão de memória, tornou-se possível promover vazamentos maciços de informação sobre o que está sendo feito em segredo, em nome do povo. O mais importante é a aliança que surgiu entre a mídia livre convencional e as novas mídias.

Por meio de intrépidas redes sociais, imagens dos levantes na Tunísia e Egito foram transmitidas de aldeias locais para nossa audiência mundial de mais de 200 milhões de pessoas.

Nós acompanhamos as multidões que se manifestaram diante do Ministério do Interior da Tunísia, um símbolo poderoso de repressão. E transmitimos ao vivo da praça Tahrir, no Cairo, dia e noite, já há 12 dias, a despeito de todas as tentativas de desligamento de nossas câmeras e detenção de repórteres.

Foto: Hannibal Hanschke/European Pressphoto Agency

As câmeras da Al Jazerra enviando imagens ao vivo, desde a Praça Tahrir, não serve aos extremados, desestimula a violência e a provocação

O papel que desempenhamos agora não é diferente daquele que os melhores veículos de mídia dos países desenvolvidos desempenham: extrair informação dos poderosos e repassá-la à fonte primária do poder, o povo.

No entanto, a mídia livre está sob constante ataque na região por supostamente "trair os interesses nacionais", ou porque veiculamos reportagens em momentos inoportunos, ou porque defendemos agendas ocultas de "desestabilização".

Nas duas últimas semanas, as mesmas acusações de sempre nos foram feitas pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP). O ataque foi um resultado de nossa veiculação, on-line e via TV, de documentos das autoridades palestinas, em um vazamento sem precedentes de documentos internos e registros de negociações diplomáticas. O Oriente Médio sem dúvida está passando por um momento de transformação histórica. A Al-Jazeera e outros veículos livres de mídia não são a causa da onda de levantes e da inquietação que varre a região.

Os motivos para isso são profundos e vão além do papel da mídia. Mas somos um fator importante para que o povo da região disponha dos meios necessários a tomar o controle sobre sua vida. E podemos estar certos de que o destino do Oriente Médio já não será decidido por trás de portas fechadas.


Wadah Khanfar é diretor-geral da rede Al-Jazeera a maior emissora de televisão jornalística do Catar. Transmite em língua árabe e inglês
*Acrescentamos subtítulo, foto e legenda ao texto original

4 de jan. de 2011

CUBA: Um passaporte, um salvo conduto - Yoani Sánchez

CUBA
Um passaporte, um salvo conduto
A blogueira cubana fala do isolamento dos cubanos, que mesmo com passaportes não podem deixar a Ilha. Ela mesma teve seu passaporte retido pela migração, na última vez que solicitou permissão para sair de Cuba

Foto: Geración Y

O dissidente Guillermo Fariñas possui passaporte, mas não tenha permissão para sair de Cuba

Yoani Sánchez
Fonte: Desde Cuba - Geración Y

Tem apenas trinta e duas páginas e uma sóbria capa azul. O passaporte cubano mais parece um salvo conduto do que uma identificação. Com ele podemos sair do isolamento, porém sua posse não garante que consigamos pegar um avião. Vivemos no único país do mundo onde para se adquirir o dito documento de viagem tem-se que pagar numa moeda diferente da qual se recebe os salários. Seu custo de “cinqüenta e cinco pesos conversíveis” significa para um trabalhador médio economizar o saldo integral de três meses com o fim de conseguir esse livreto de filigrana e folhas numeradas.

Contudo, neste princípio do século XXI já não é tão fora do comum encontrar um cubano com passaporte, algo raro nos anos setenta e oitenta, quando só uns poucos eleitos podiam exibir um. Tornamo-nos um povo imóvel e os poucos que saíam iam à missão oficial ou a caminho do exílio definitivo. Transpor a barreira do mar era um prêmio para os fiéis e a grande massa dos “não confiáveis” não podia nem sonhar em deixar o arquipélago para trás. Afortunadamente isso mudou graças talvez a chegada de turistas que nos contagiaram com a curiosidade pelo exterior ou pela queda do campo socialista que colocou o governo ante a evidência de que já não poderia presentear os mais leais com “viagem de estímulos”.

Agora, quando conseguem se naturalizar em outro país, meus compatriotas respiram aliviados por contarem com outro documento de identificação que lhes devolve o sentido de pertencerem a algum lugar. Umas poucas páginas, uma capa forrada de couro e o escudo de outra nação podem fazer a diferença. Enquanto isso o livrinho azulado onde se diz que nasceram em Cuba fica escondido na gaveta, a espera que algum dia seja motivo de orgulho e não de pena.

“Aproveito para contar que o escritório de Imigração e estrangeiros mantém meu passaporte retido desde minha última solicitação de permissão de saída. Passei a ser uma não documentada?


Traduzido por Humberto Sisley de Souza

21 de out. de 2010

CUBA - EUROPA : Fariñas, dissidente cubano, ganha importante premio

CUBA - EUROPA
Fariñas, dissidente cubano, ganha importante premio
O Parlamento Europeu concedeu o Prêmio Sakharov ao dissidente cubano Guillermo Fariñas, que realizou uma greve de fome de mais de quatro meses para pressionar o governo pela libertação de dezenas de presos políticos. O Prêmio inclui o pagamento de 50 mil euros. A decisão de premiar Fariñas veio a público horas antes de chanceleres da União Européia se reunirem em Luxemburgo para discutir as relações das 27 nações do bloco com Cuba.

Foto: Reuters

Fariñas, que só encerrou seu jejum de 135 dias, depois que o presidente de Cuba, prometeu à Igreja Católica soltar cinquenta presos políticos, passou o dia recebendo cumprimentos pelo prêmio

Postado por Toinho de Passira
Fontes: Le Monde, AFP, Portal Terra, DCI, European Parliament

O dissidente cubano Guillermo Fariñas Hernández, 48 anos, recebeu do Parlamento Europeu, nesta quinta-feira o prêmio Sakharov de Direitos Humanos para a Liberdade de Pensamento. Fariñas é hoje o mais conhecido opositor ao regime castrista residente em Cuba. Jornalista, psicólogo e ex-militar, é tido pelo governo cubano como um mercenário a serviço dos inimigos do regime nos Estados Unidos e na Europa. Já realizou 23 greves de fomes e pela dissidência passou 11 anos encarcerados.

Em fevereiro deste ano, Guilhermo Fariñas começou uma nova greve de fome nova greve de fome em protesto contra a morte, do cubano dissidente Orlando Zapata (morto durante uma greve de fome na prisão) e para exigir a libertação de vinte e seis presos políticos. O ato ajudou a pressionar o governo cubano, que acabou anunciando a libertação de 52 presos políticos, com intermediação da Igreja.

Na ocasição Fariñas rejeitou asilo político na Espanha, insistindo a continuar em Cuba, enfrentando o regime Castrista apenas com a sua determinação.

Foto: Reuters

Fariñas na porta de sua casa em Santa Clara, Cuba

A imprensa internacional o encontrou em sua casa na cidade de Santa Clara, 270 km a leste de Havana. Muito magro e ainda mostrando dificuldade para andar, devido as suas últimas greves de fome, em sua modesta residência.

Modesto e lúcido, o opositor cubano Guillermo Fariñas dedicou o Prêmio que lhe foi concedido, aos "lutadores pela democracia" em Cuba.

"O mundo civilizado, o Parlamento Europeu está enviando mensagem aos governantes cubanos de que já é hora da democracia e da liberdade de consciência e expressão em Cuba", disse o dissidente, as agências de notícias internacionais.

Sentado em frente ao andador de metal, de pijama e sem camisa, o homem - um mulato alto, de 48 anos -, não parava desde cedo de atender o telefone, depois que uma chamada a partir de Estrasburgo anunciou a concessão do Prêmio Sakharov 2010 de liberdade de consciência.

"Não é um prêmio a Guillermo Fariñas, mas a todo o povo cubano que há 50 anos luta para sair da ditadura; nós, os opositores pacíficos dentro de Cuba, somos o rosto mais visível", assim como os presos políticos e o exílio", acrescentou Fariñas.

Sua mãe Alicia Hernández, uma enfermeira aposentada de 75 anos, defensora da revolução, e uma irmã, acompanhavam-no na modestíssima casa, no momento do anúncio.

Natural de Santa Clara, cidade que ficou ao lado de Ernesto Che Guevara numa batalha decisiva para a vitória de Fidel Castro, em 1 de janeiro de 1959, Fariñas, filho de dois fervorosos seguidores da revolução, fez parte das Tropas Especiais; na década de 80 realizou missão militar em Angola.

Distanciou-se do Governo em 1989, quando se opôs ao fuzilamento do general Arnaldo Ochoa, acusado de narcotráfico.

Foto: Getty Images

Fariãs recebeu a visita de Laura Pollan, a líder do movimento “Damas de Branco”, que defende presos políticos cubanos e que ganhou o prêmio no ano passado, mas foram impedidas de recebê-lo

O prêmio, de 50 mil euros, leva o nome do dissidente russo Andrei Sakharov, que ganhou o Nobel da Paz, e foi entregue pela primeira vez em 1988.

Fariñas disse que espera viajar em dezembro para receber pessoalmente o prêmio e a imprensa já especula que o cubano possa fazer uma nova greve de fome caso o governo impeça sua saída.

Fariñas é o terceiro Prêmio Sakharov concedido à oposição cubana, depois de Oswaldo Payá em 2002 e das Damas de Branco, esposas de presos políticos, em 2005. O governo não as autorizou a viajar para receber a homenagem, em dezembro passado.

Foto: European Parliament

O presidente do Parlamento Europeu, Jerzy Buzek, ao anunciar a premiação ao plenário declarou que “Fariñas esteve pronto para se sacrificar e arriscar a própria vida e saúde como meio de pressão para alcançar mudanças em Cuba”

Leia o que foi publicado sobre Guilhermo Fariñas no “thepassiranews”:

O primeiro gole de água
Boas novas: governo cubano vai libertar 52 presos
Mais cinco cubanos iniciam greve de fome


8 de out. de 2010

CHINA: Dissidente chinês, preso ganha o Nobel da Paz

CHINA
Dissidente chinês, preso, ganha o Nobel da Paz
Liu Xiaobo, o dissidente chinês pró-democracia, que está preso, por defender liberdade de expressão no seu país, ganhou nesta sexta-feira o Prêmio Nobel da Paz por sua luta não violenta em prol dos direitos humanos. O governo da China torceu contra, pressionou para ele não ganhar e não gostou nada da honraria concedida ao professora de literatura

Postado por Toinho de Passira
Fontes: Reuters , The New York Times, Portal Terra, Jornal de Negócios, G1

O premio Nobel da Paz, deste ano, foi concedido para o dissidente chinês Liu Xiaobo, um professor de literatura de 54 anos que em dezembro de 2008 promoveu um manifesto, conhecido como a Carta 08, apelando ao respeito pela liberdade de expressão e os direitos humanos e por isso foi condenado a onze anos de prisão.

O governo chinês temia a concessão do prêmio a Liu e, por isso, vinha criticando duramente os responsáveis pela premiação, enquanto autoridades do país manifestavam seu desagrado contra o dissidente.

Chegaram a insinuar que a concessão poderia ser considerado um ato inamistoso e prejudicar as relações comerciais entre Pequim-Oslo, já que o comitê que concede esse prêmio tem sede na Noruega.

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Jiang Yu foi peremptório ao afirma nas vésperas do anuncio do premio declarando que Liu violara a Lei e as suas ações eram totalmente contrárias aos propósitos do Prêmio Nobel da Paz.

Essa pressão toda acabou favorecendo o dissidente chinês. A concessão do Nobel da Paz a Liu põe em evidência a situação dos direitos humanos na China num momento em que o país começa a assumir um papel de mais destaque no cenário mundial, como resultado do poder econômico propiciado por seu crescimento.

O Comitê elogiou Liu por "sua batalha longa e não violenta pelos direitos humanos fundamentais na China" dizendo acreditar "que existe uma estreita conexão entre os direitos humanos e a paz".

Outros dissidentes chineses, entre eles o advogado Teng Biao, que se ocupou da defesa de inúmeros casos de direitos humanos em seu país, disse acreditar que "o prêmio ajudará o desenvolvimento da democracia na China".

O presidente do Comitê, Thorbjoern Jagland, afirmou que a China, a segunda maior economia do mundo, deveria esperar estar sob um maior escrutínio à medida que se torna mais poderosa.

Em uma entrevista coletiva na Turquia, o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, não respondeu a perguntas de jornalistas depois que o prêmio foi anunciado.

Foto: Getty Images

POLÊMICA - O Prêmio Nobel da Paz sempre causa polêmica. No ano passado o ganhador foi o poderoso presidente americano Barack Obama, muitos acharam injustos, precoce, bajulatório. Neste ano, um prisioneiro chinês, irrita o governo da China, que também não gostou quando o premiado foi o tibetano Dalai Lama em 1989

O Prêmio Nobel da Paz é concedido desde 1901, e é um dos cinco prêmios instituídos em seu testamento pelo químico e industrial sueco Alfred Nobel (1833-1896).

Este é o único Nobel que se decide e se entrega fora da Suécia, concretamente em Oslo (Noruega). Ele é dotado atualmente com dez milhões de coroas suecas (1,3 milhão de dólares), e é outorgado por um comitê de cinco pessoas escolhidas pelo Parlamento norueguês, segundo estipulou Alfred Nobel em seu testamento. Os Prêmios Nobel são destinados a recompensar os benfeitores da humanidade que se distingam a cada ano nos campos da Física, da Química, da Medicina, da Literatura e da Paz. Em 1968 o Banco da Suécia instituiu o prêmio em sua modalidade de Economia.

Alfred Nobel, inventor da dinamite, estava profundamente preocupado pelos horrores da guerra após comprovar os efeitos desse explosivo no conflito franco-prussiano e quis que um de seus prêmios fosse para "a pessoa ou entidade que mais ou melhor tenha contribuído à aproximação dos povos, à supressão ou redução dos exércitos permanentes e à promoção de congressos pela paz".

O prêmio Nobel da Paz é entregue no dia 10 de dezembro, aniversário da morte de Alfred Nobel, em cerimônia em Oslo da qual o rei da Noruega participa.

Foto: Reuters

Liu Xiaobo, o ganhador do premio Nobel da Paz, que está preso, acompanhado de sua esposa Liu Xia, que está sob vigilância

Fica a dúvida quem receberá no fim do ano o premio em nome de Liu Xiaobo que está encarcerado na prisão de Jinzhou, no nordeste da China. A melhor representante seria sua esposa, Liu Xia, a única que pode visitá-lo uma vez por mês, debaixo de severa vigilância. Mas por certo as autoridades chinesas não lhe deixaram representá-lo. Apesar de não está encarcerada Liu, está sob vigilância domiciliar desde que o marido foi detido em dezembro de 2008.


14 de mai. de 2010

As mil e uma utilidades do Twitter de Hugo Chávez

VENEZUELA
As mil e uma utilidades do Twitter de Hugo Chávez
O presidente venezuelano é por certo a autoridade mundial que mais “tuita” na atualidade. Para ele o microblog serve para fazer propaganda, combater o capitalismo, dá notas oficiais, fornecer noticias em primeira mão e se comunicar com a população. Criou um órgão oficial só para responder a dezenas de milhares de mensagens que recebe e uma verba especial para atender os pedidos ali postados. Só não se sabe quando ele vai enjoar do brinquedo

Foto: Reuters

Hugo Chávez “tuitando” ao vivo na Televisão

Toinho de Passira
Fontes: AFP, Veja Abril, Publico, Twitter de Chávez, O Globo

O presidente venezuelano Hugo Chávez lançou-se no site de microblog na semana passada, com o claro propósito de contrapor a rede de adversários que tem usando cada vez mais, a internet e o Twitter em particular, para criticar seu governo.

Chávez apresenta-se no Twitter como “presidente da República Bolivariana de Venezuela, Soldado Bolivariano, Socialista y Antiimperialista”.

Sua conta, @chavezcandanga, atraiu cerca de 300 mil seguidores - muitos dos quais presumivelmente curiosos se o coronel famoso por seus discursos longos poderia adaptar-se limite máximo de 140 caracteres do Twitter.

Numa segunda onda, o Twitter presidencial tem sido inundado de mensagem de milhares de usuários escrevendo para pedir ajuda em questões de saúde, trabalho, vaga na rede pública de educação, e até para denunciar a existência de buracos na rua em que moram.

Foto: Reuters

Duas centenas de funcionários hoje cuidam do Twitter de Chávez

O presidente então criou a primeira estatal Twitter do planeta, contratando uma equipe de 200 servidores públicos, segundo anunciou pela televisão, só para ajudá-lo a responder as mais de 50 mil mensagens que diz ter recebido em apenas nove dias.

Anunciou também que vai criar um fundo estatal, com verbas do orçamento, para atender aos assuntos urgentes dos milhares de pedidos que recebe através de sua conta Twitter.

Devido à visibilidade do Twitter de Chávez, o microblog sofreu um boom de usuários na Venezuela, onde há agora mais de 200 mil contas ativas. A conta de Chávez é o segundo mais seguido no país após a Globovisión, o canal de televisão oposicionista.

Na fala televisiva sobre o assunto, Chávez disse que seus seguidores, classificavam-se em simpatizantes, mais da metade dos acessos, os requerentes, reclamantes e pedintes ocupando um pouco mais de um quarto das mensagens e menos de 20% de visitantes hostis.

O presidente tem transformado o Twitter num palanque presidencial, onde ele faz promessas à população, falar de aumento de salários ou pensões, ao mesmo tempo em que posta mensagens anticapitalistas e em prol da sua maluca revolução socialista.

"Não nos resta alternativa a não ser apertar a regulação do mercado capitalista selvagem. Ou acabamos com o capitalismo ou ele acaba conosco", diz um dos posts mais recentes do venezuelano.

O microblog começa a tomar uma importância inesperada porque Chávez tem antecipado nas suas mensagens atos de governos e notícias em primeira mão, que só horas ou até dias depois são divulgadas e confirmadas pelos órgãos oficiais venezuelanos.

Por exemplo, a nacionalização de uma universidade foi o tema de uma de suas mensagens.

"Informo, atenção Barinas: estudantes da Universidade Santa Inês, acabo de aprovar o plano de nacionalização para o bem de todos. Agora: GRÁTIS."

Na madrugada desta quinta-feira, o caudilho chegou a anunciar o afundamento de uma plataforma de gás, com 95 trabalhadores. "Com pesar, informo que a plataforma de gás Aban Pearl afundou há poucos momentos. A boa notícia é que 95 trabalhadores foram salvos", afirmou ele pela rede social aos seus 313.982 seguidores.

Pouco depois, uma nova mensagem atualizava a situação. "Todos foram retirados e, neste momento, patrulhas das Forças Armadas se dirigem ao local. Seguiremos adiante e venceremos. Viva a Venezuela".

O pronunciamento oficial do governo sobre o acidente, no entanto, veio apenas após a mensagem eletrônica de Chávez e foi feito pelo ministro de Energia e Petróleo da Venezuela, Rafael Ramírez, na televisão estatal.

Em Portugal a chancelaria lusa, correu atrás para confirmar a vinda do 1º Ministro português, José Sócrates a Venezuela publicada no Twiter de Chávez, em absoluta primeira mão.

“También llamó el amigo José Sócrates, 1er Ministro de Portugal. Nos visitará pronto, el sábado 29 de junio. Saludos a la comunidad Portuguesa”, escreveu Hugo Chávez.

Foto: Reuters


"É o primeiro comunista que usa o Twitter no mundo. Um comunista que usa uma ferramenta capitalista". – disse, referindo-se a Chávez, o jornalista Alberto Ravell

O jornalista e ex-diretor geral da Globovisión, Alberto Federico Ravell, vê a adesão de Chávez à rede como uma garantia contra a censura.

"Fico muito contente que o presidente tenha entrado no Twitter porque dá ao povo venezuelano a garantia de que não vai eliminar a ferramenta. Houve um boato de que ele faria isso, mas agora está participando", disse Ravell a VEJA.com.

De fato, a internet ainda é um dos poucos meios de comunicação que não foram censurados no país, onde falar mal do presidente pode acabar em cadeia.


Charge: SIMANCA - Jornal da Tarde (SP)
No começo de 2010, ele tirou do ar, pela segunda vez em três anos, a emissora RCTV - que se recusou a exibir um pronunciamento do presidente e outros cinco canais de televisão. As suspensões causaram a renúncia do vice-presidente da República, além de uma onda de protestos no país, que acabou com a morte de dois jovens.

Logo depois, em março deste ano, o presidente da emissora Globovisión, Guillermo Zuloaga, foi preso, acusado de ter insultado o governo Chávez durante um Congresso da Sociedade Interamericana de Imprensa.

Mas nada garante que esta realidade não esteja com os dias contados, se levarmos em conta o perfil de censor do ditador venezuelano que de um momento para outro pode se cansar do brinquedo, tentar identificar e mandar prender quem usou o Twiter para atacá-lo e acabar com essa farra de liberdade momentânea.

5 de abr. de 2010

CUBA: DHL ou como se apóia a censura

CUBA
DHL ou como se apóia a censura
A blogueira cubana conta mais sobre o dia a dia sob censura na Ilha dos Castros

Foto: Generación Y

Yoani Sánchez
Traduzido por Humberto Sisley de Souza Neto
Fonte: Generación Y

Faz um par de anos fui ao escritório da DHL em Miramar para enviar uns vídeos familiares à uns amigos na Espanha. A empregada me olhou com se eu pretendesse mandar para outra galáxia uma molécula de oxigênio. Sem sequer manusear o cassete MiniDV, disse-me que a filial de Havana só aceitava transportar modelos VHS. Pensei que se tratava de uma questão de tamanho, porém a explicação dela foi mais supreendente: “É que nossas máquinas para visualizar o conteúdo só lêm cassetes grandes”. Frente a minha insistência, a mulher suspeitou que no lugar do rosto sorridente do meu filho, eu queria remeter “propaganda inimiga” ao estrangeiro.

Regressei frustrada para casa - onde o correio regular nunca chega - e após um tempo precisei de novo dos serviços desta empresa alemã. Ante a impossibilidade de viajar para o Chile para apresentar meu livro Cuba Libre, a editora me remeteu, faz poucos dias, dez exemplares num envelope com a palavra “express”. Nem as numerosas chamadas telefônicas para o escritório da rua 26 esquina com 1ra, nem minha presença alí, conseguiram fazer com que me entregassem o que é meu. “Seu pacote foi confiscado” disseram-me hoje pela manhã, todavia, na realidade, deveriam ter sido mais honestos e confessarem-me “Seu pacote foi roubado”. Ainda são os mesmos textos que, sem lançar mão da violência verbal, publiquei na Web desde tres anos atrás; os censores da alfândega seguiram os trâmites como se fosse um manual para fabricar cocktails Molotov.

Agora que as manchetes do mundo todo contam o fim da camaradagem entre o Google e a censura chinesa, as empresas estrangeiras radicadas em Cuba continuam obedecendo os filtros ideológicos impostos pelo governo. Com seus ares de eficência, sua tradição de imediatismo e suas frases no estilo de “Keep an eye on your package”, DHL aceitou uma tabela política para medir seus clientes. Não fazê-lo lhe valeria a expulsão do país e o consequente prejuízo econômico, daí que façam pouco da inviolabilidade do correio e olhem para o outro lado quando alguém pede que lhe devolvam o que lhe pertence. As cores vermelha e amarela da sua identidade corporativa nunca me pareceram tão berrantes. Ao olhá-las sinto que no lugar de celeridade e eficácia nos estão advertindo: “Cuidado! Nem sequer entre nós sua correspondência está segura”.


A DHL Express é um serviço postal internacional ligado desde 2002 ao Deutsche Post da Alemanha. Sob o lema «Nós movemos o mundo» a DHL domina o mercado internacional com aproximadamente 1,5 bilhões de envios por ano. Para isso submetem-se aos “costumes locais”, como pode ser visto no post de Yoani Sánchez.

26 de mar. de 2010

Gloria Estefan multiplica as “Dama de Branco”

CUBA – MIAMI
Gloria Estefan multiplica as “Dama de Branco”
A cantora cubana radicada nos Estados Unidos, Gloria Estafan, promove uma manifestação, com milhares de participantes, para apoiar as mães e esposas dos dissidentes cubanos, que lutam para libertar os presos políticos em Cuba

Foto: Reuters

“Neste momento, as Damas de Branco estão marchando e estão sendo alvo de violências. – disse Estefan, que não continha a emoção – “Damas de Branco”, nós estamos com vocês! – gritou aclamada pela multidão

Toinho de Passira
Fontes: Euronews, Associated Press, Miami Herald, El Universal, BBC World

A cantora e compositora cubana, radicada nos Estados Unidos, Gloria Estefan, vencedora do Grammy, com a voz embargada, mas com um sorriso no rosto, falou, nesta quarta, para os milhares de manifestantes, que foram as ruas do bairro cubano em Miami, a “Little Havana”.

Era o fim de uma marcha para apoiar as “Damas de Branco” um grupo de mães e esposas de 75 dissidentes cubanos presos em uma operação do governo em 2003, que desafiam as autoridades da Ilha, para libertar os presos políticos do regime.

Gritando "Libertad! Libertad!" as Damas de Branco marcharam através de Havana, para marcar o aniversário das detenções e foram rechaçadas por grupos pró-governo e agentes de segurança do Estado cubano.

"Obrigado Miami", exibindo nas mãos uma foto das “Damas de Branco” e um ramo gladíolo, as flores que as corajosas mulheres cubanas dissidentes exibem em suas manifestações, disse Estefan à multidão que lotava a rua.

Foto:Reuters

EMOCIONANTE: As ruas de Miami foram invadidas por milhares de Damas de Branco

"Somos um povo unido por nosso amor pela liberdade. Nós estamos aqui com todas as nossas bandeiras diferentes. Isso é o que este grande país que nos permite fazer". Ao lado de Estefan estavam outros cantores, Pit Bull, Willy Chirino, Natalia Jiménez e Luis Fonsi.

Foto: Reuters

Um dos manifestantes exibia um cartaz dizendo: “Obama nos também temos um sonho!”

Um pequeno avião sobrevoou a manifestação trazendo a reboque uma bandeira onde se lia, em espanhol, "Liberdade para os presos políticos."

A passeata foi pacífica, com diferentes gerações de cubanos e decendentes nascido nos Estados Unidos, unidos pela libertação do seu país.

Foto:Getty Images

“Aqui estamos com o coração nas mãos. Creio que enviamos ao mundo e a Cuba a mensagem que amamos a liberdade e que é um direito do ser humano na terra.” – disse Gloria Estefan

Os problemas dos direitos humanos em Cuba voltaram a chamou a atenção do mundo, nas últimas semanas, com a morte durante uma greve de fome, do dissidente Orlando Zapata Tamayo, um dos presos políticos da Ilha e da situação precária que se encontra o ativista Guillermo Farinas, também em greve de fome, em protesto devido à morte de Zapata.

Por fim, a desproporcional e grotesca repressão das autoridades cubanas, contra um protesto pacífico das Damas de Branco.

Foto: Getty Images

As Damas de Branco se multiplicaram nos Estados Unidos: “Eu gostaria que as Damas de Branco me considerasse como uma delas!” - disse a Estefan.

Estefan falou que vendo várias pessoas que antes apoiavam o regime cubano, protestando com a atual situação, e vendo a coragem das frageis e determinadas Damas de Branco, sentiu-se como cubana e como mulher na obrigação de levantar sua voz, associando-se as mulheres cubanas.

Foto: Getty Images

Pense que entre espinhos nascem as flores: O cartaz que mostra a foto de Orlando Zapata, o dissidente morto, reproduz trecho da música “*Guantanamera “ com versos de José Martí.

”Mírame, madre, y por tu amor no llores,
si esclavo de mi edad y mis doctrinas
tu mártir corazón llené de espinas,
piensa que nacen entre espinas flores.”


*Guantanamera é o gentílico feminino de quem é originario de Guatánamo.

Gloria Estefan acompanhada da banda Miami Sound Machine
canta “Words Get In The Way” de Gloria Estefan

Gloria Estefan, acompanhada da banda Miami Sound Machine,
canta “Wrapped” de Gloria Estefan


Talvez seja muita pretensão, mas nós do "thepassiranews" também gostariamos de, como Gloria Estafan, nos sentirmos, um pouco, como uma das Damas de Branco. (pretensão estava escrito com ç, no texto que publicamos originalmente, fomos corrigido por uma leitora. Não queremos justificar o nosso analfabetismo ortografico, mas foi com grande emoção que escrevemos este texto, o que permitiu o gritante deslize. Obrigado a Vic.)


18 de mar. de 2010

As "Damas de Branco" ameaçam “democracia” de Castro

CUBA
As "Damas de Branco" ameaçam “democracia” de Castro
Um grupo de “perigosas” mulheres, esposas e mães de dissidentes cubanos, conhecidas como as “Damas de Branco”, foram impedidas, ontem,18, por truculentas agentes de seguranças de continuar desfilando em manifestação pacífica pelas ruas de Havana. As mulheres ameaçavam o regime cubano com agressivas flores do campo e de quando em quando gritavam palavras assustadoras como “liberdade!”. Os irmãos Castros estão em pânico

Foto: Enrique De La Osa/Reuters

Uma das perigosas “agentes a serviço do governo americano”, sendo conduzida a força por uma constrangida policial cubana, no momento em que atentava contra a paz da Ilha de Fidel

Toinho de Passira
Fontes: AFP, Herald Tribune, Estadão, The New York Times

Nada com um grupo de duas dúzias de mulheres determinadas e revoltadas, para assombrar regimes ditatoriais. O estado maior cubano está reunido nesse momento vendo como enfrentar essas perigosas combatentes, vestidas de branco, com o coração ferido, defensoras de filhos, netos e maridos, que desafiam sem temor, toda a repressão e a maquina demolidora do regime “castrista” que vem amordaçando os cubanos há 50 anos.

Foto: Desmond Boylan/Reuters

Assustados, os chefes cubanos, mandaram tirar das ruas as Damas de Branco, o grupo de mães e mulheres de presos políticos cubanos, por forças de segurança do regime de Fidel e Raúl Castro. As cerca de 30 mulheres foram arrastadas pelos braços e cabelos por policiais, que as forçaram entrar em dois ônibus.

Os veículos levaram as mulheres para a casa da líder do grupo, Laura Pollán, que qualificou a ação como um "sequestro".

Foto: Reuters

"Estou aqui chamando a atenção do mundo", disse Laura, que é casada com Héctor Maseda, preso em 19 de março de 2003 e condenado há 20 anos por "atentar contra a independência e a integridade territorial do Estado"

A marcha de ontem foi a terceira que o grupo realizou esta semana. A série de protestos tem como objetivo marcar o sétimo aniversário da primavera negra, ofensiva do regime contra a oposição iniciada em 18 de março de 2003, que resultou na prisão e condenação de 75 dissidentes.

Foto: Desmond Boylan/Reuters

As perigosas Laura Pollán e Reina Luisa Tamayo Danger mãe do dissidente cubano Orlando Zapata Tamoyo morto em greve de fome no presídio, desfilaram pela rua após a subversiva atividade de assistir uma missa, numa igreja nos arredores de Havana.

Quando as Damas de Branco deixavam a igreja, com a intenção de caminhar até a casa do opositor Orlando Fundora, que estaria em greve de fome há dias, encontraram pela frente cerca de 400 partidários do governo, convocados pelo serviço de segurança, para criar um clima de conflito e justificar o fim dos protestos.

Foto: Enrique De La Osa/Reuters

As bravas senhoras resistiram aos policiais e estão dispostas a continuar protestando pacificamente

Não deixa de ser um avanço, antes eles não inventariam nenhum pretexto, baixariam o sarrafo e não dariam satisfação a ninguém.

Mulheres da Polícia Nacional Revolucionária e do Ministério do Interior fizeram um cordão de isolamento para separar os dois grupos. Depois, dois ônibus vazios chegaram para bloquear a rua e as mulheres foram obrigadas a entrar nos veículos.

Foto: Enrique De La Osa/Reuters

Bertha Soler, (foto acima) esposa de Angel Moya Acosta, preso político que cumpre pena de 20 anos, deu trabalho extra aos órgãos de Segurança. Consciente e determinada disse que as Damas de Branco vão continuar a fazer marchas, “a não ser que nos joguem na prisão”. Concluiu reportando a verdadeira situação dos Castros, dizendo que governo toma esse tipo de atitude por se sentir "encurralado".

O confronto entre as dissidentes e forças do governo ocorre em um momento complicado, no qual o regime é duramente criticado pela má situação dos direitos humanos no país e devido à internet não consegue mais abafar as imagens nem a voz dos dissidentes, que saem da ilha navegando pela web incontrolável.

Havana rejeita as críticas, afirmando que os dissidentes não passam de "mercenários a serviço dos EUA". O governo da ilha ainda afirma que as Damas de Branco fazem parte de uma "política subversiva" de Washington.

Foto: Desmond Boylan/Reuters

O grupo das Damas de Branco surgiu em abril de 2003, depois que seus filhos e maridos foram presos em uma ofensiva do governo cubano contra os dissidentes políticos, agora são um dor de cabeça sem analgésico para Raul e Fidel.

Foto: Desmond Boylan/Reuters

Espera-se para qualquer momento uma nota do Presidente Lula em apoio ao governo “democrático” de Cuba por esse violento atentado feminino de meia idade ao governo e a democracia cubana.