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14 de nov. de 2014

Ministério Público Federal constata ilegalidade na forma de pagamento aos medicos cubanos

BRASIL – Ilegalidade
Ministério Público Federal constata ilegalidade
na forma de pagamento aos médicos cubanos
Repercutindo o parecer do MPF brasileiro, o Wall Street Journal, chama o Mais Médico de “Tráfico de médicos escravos” e ressalta que Cuba ganha quase 8 bilhões de dólares por ano, às custas do trabalho dos profissionais de saúde e ainda posa de solidária para os desavisados

Foto: Moacyr Lopes Junior/Folhapress/VEJA

A colunista Mary Anastasia O'Grady , do Wall Street Journal, fala do parecer do MPF do Brasil e diz que Havana está fazendo bilhões à custa de pessoal médico que envia ao exterior

Postado por Toinho de Passira
Fontes: Wall Street Journal, Blog Felipe Moura Brasil, Prosa&Política

O Ministério Público Federal em Brasília requer à Justiça, em dois pareceres, que o governo brasileiro passe a pagar diretamente os profissionais cubanos participantes do programa Mais Médicos, como manda as leis trabalhistas brasileiras, condenando, como ilegal, a intermediação do governo cubano ou da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

Essa evidencia de irregularidade no programa “Mais Médico” foi repercutida num artigo da jornalista americana Mary Anastasia O’Grady, do Wall Street Journal, que considera programas como o nosso, e outros que Cuba mantém na Venezuela e em países africanos, como tráfico cubano de escravos médicos, destaca a jornalista que Havana ganha quase US$ 8 bilhões por ano às custas de trabalhadores de saúde enviados a outros países.

A jornalista ressalta que ao fazer de profissionais médicos um produto de exportação, irresponsavelmente o governo dos Castros, não se preocupa em provocar um desabastecimento de médicos em Cuba, deixando seus cidadãos desassistidos, embora, agravando a situação haja uma persistente explosão de cólera e dengue na ilha.

Nos dois pareceres encaminhados à Justiça, a procuradora da República Luciana Loureiro Oliveira acata parcialmente duas ações que pedem a anulação do programa. Uma delas foi movida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), um dos órgãos mais críticos ao programa.

Ao contrário dos médicos de outras nacionalidades, que recebem 10.000 reais mensais, os cubanos ganham uma bolsa de 1.000 dólares por mês (cerca de 2.500 reais) por meio de um convênio firmado entre o Estado brasileiro e a OPAS.

Nos documentos, a procuradora afirma que os termos do acordo com a OPAS não deixam claro quanto cada médico recebe do governo brasileiro. Segundo ela, a própria União diz “não saber em que efetivamente estão sendo gastos os recursos públicos brasileiros”, e destaca o montante de 510 milhões de reais repassados à OPAS em 2013, para trazer os médicos da ilha dos irmãos Castro.

”... a viabilização da vinda de tais profissionais cubanos, nos termos em que pactuados com a OPAS, se mostra francamente ilegal e arrisca o erário a prejuízos até então incalculáveis, exatamente por não se conhecer o destino efetivo dos recursos públicos brasileiros empregados no citado acordo”, informa o parecer.

O artigo do Wall Street Journal, esclarece que embora os médicos cubanos não são forçados por uma arma na cabeça a se tornarem escravos expatriados, são “convencidos” com ameaças de ficarem sem emprego ou de familiares sofrerem retaliações.

Basta constatar que quando tiveram a chance, muitos desses indivíduos traficados fugiram, quase 3.100, nos últimos dois anos, como se estivessem numa prisão, cumprindo pena.

A articulista Mary Anastasia O’Grady, sugere que se for atendido o parecer do Ministério Público Brasileiro, e o governo cubano, perder o controle sobre o dinheiro pago pelo Brasil, talvez seja o fim do programa “Mais Médicos” e o fim das boas intenções cubanas para com o Brasil.

17 de set. de 2013

Eike Batista culpa executivos da OGX e falta de sorte por colapso das empresas

BRASIL - Economia
Eike Batista culpa executivos da OGX e
falta de sorte por colapso das empresas
Em entrevista ao The Wall Street Journal, Eike, disse que os executivos do setor de petróleo o enganaram, que a saída dos seus investidores foi precoce e que também não teve sorte (chegou a citar seu mapa astral). Enquanto isso, credores detentores de cerca de US$ 10 bilhões em dívidas emitidas pelas empresas de Batista tentam encontrar formas de recuperar seu dinheiro em uma das maiores reestruturações de dívida em andamento no mundo.

Foto: Jonathan Alcorn /Bloomberg

No espaço de um ano, Eike foi da posição de sétimo homem mais rico do mundo, com uma fortuna de US$ 30 bilhões, à exclusão da lista de bilionários, uma das maiores e mais rápidas implosões financeiras dos tempos modernos.

Postado por Toinho de Passira
Reportagem de John Lyons e Luciana Magalhães (Colaborou Loretta Chao)
Fontes: The Wall Street Journal - Brasil, Estadão

O empresário Eike Batista, protagonista de um dos maiores colapsos financeiros da história, está apontando pessoas que ele considera responsáveis por sua queda.

Em entrevista ao The Wall Street Journal — a primeira desde que seu império desabou no início deste ano —, o ex-piloto de corrida de barcos de alta velocidade, de 56 anos, disse que os executivos do setor de petróleo que ele costumava chamar de "Dream Team" o enganaram. Ele também disse que seus investidores saíram do negócio precocemente. E ele simplesmente não teve sorte.

"Eu sou o maior perdedor nisso tudo. Eu tentei criar riqueza para todos nós. Essa foi a razão de levantarmos todo o dinheiro — para criar riqueza e dividi-la", disse na sexta-feira o executivo em seu escritório no Rio de Janeiro. "Eu acreditei nisso. Vivendo em um país que tem essas descobertas de petróleo gigantescas, por que eu não poderia ter sido abençoado com uma delas?"

No curto espaço de tempo de um ano, o empresário foi da posição de sétimo homem mais rico do mundo, com uma fortuna estimada de US$ 30 bilhões, à exclusão da lista de bilionários, uma das maiores e mais rápidas implosões financeiras dos tempos modernos.

As ações das suas seis empresas de capital aberto caíram, em alguns casos, 90% este ano depois que a petrolífera do grupo não conseguiu produzir a maior parte dos 10 bilhões de barris de petróleo que Batista disse que tinha potencial de atingir. De Nova York ao Rio de Janeiro, detentores de cerca de US$ 10 bilhões em dívidas emitidas pelas empresas de Batista estão se esforçando para encontrar formas de recuperar seu dinheiro em uma das maiores reestruturações de dívida em andamento no mundo.

A queda de Batista tem se tornado uma parábola sobre excessos do boom dos mercados emergentes que ergueram o Brasil nos últimos dez anos. Durante uma corrida que durou cinco anos, investidores respeitados como Black Rock Inc., Pacific Investment Management Co. e o fundo soberano de Abu Dhabi investiram no grupo de empresas novatas. Batista gostava de chamar esses ativos como "à prova de idiotas". Mas anos após levá-los ao mercado, nenhum deles deu lucro.

Enquanto ele falava, as luzes de uma de suas plataformas marítimas brilhavam na Baía da Guanabara. Os detentores de títulos de dívida esperam que ela esteja intacta e possa ser vendida para que sejam reembolsados pelo dinheiro investido.

Eike disse que estava cansado das intensas rodadas de negociações, que algumas noites vão até às 4 da manhã.
Batista disse que poderia levantar US$ 1 bilhão vendendo suas plataformas de petróleo. Mas deu poucos detalhes sobre a série de negociações em andamento. Em Nova York, detentores de US$ 3,6 bilhões de títulos de dívida da OGX, que agora valem centavos de dólar, tentam obrigar Batista a injetar mais US$ 1 bilhão na petrolífera. O empresário, por sua vez, está pedindo aos credores que coloquem mais dinheiro na OGX. Ele disse que eles provavelmente vão assumir o controle da empresa. Se não chegarem a um acordo, o caso pode acabar nos tribunais brasileiros.

Embora as perspectivas para a OGX pareçam sombrias, dizem analistas, Batista tem conseguido vender partes de algumas outras empresas do grupo EBX em uma enxurrada de negociações nas últimas semanas. Em agosto, a EIG Management Co. concordou em investir até US$ 560 milhões por uma participação majoritária da empresa de logística LLX. Em julho, vendeu o controle da geradora de energia MPX para à alemã E.ON . A mineradora MMX vendeu o Porto Sudeste para a Trafigura Beheer BV e o Mubadala Development Co., num negócio de US$ 400 milhões.

O empresário diz que esses acordos indicam que parte do seu conglomerado é mais saudável do que os investidores acreditam. "Essas coisas são de algum modo à prova de idiotas porque você pode vendê-las mesmo num mercado louco", disse.

Batista deu aos investidores uma forma de participar da impressionante história do crescimento econômico do Brasil em um momento em que eles buscavam alternativas para a desaceleração das economias europeia e americana. A bolsa brasileira esteve entre os mercados acionários com melhor desempenho no mundo por vários anos seguidos e o país resistiu bravamente à crise financeira de 2008. Para completar, o Brasil encontrou os maiores campos de petróleo em águas profundas de todos os tempos quando o preço do petróleo estava subindo.

A partir de 2006, Batista emitiu ações de uma série de empresas de commodities interligadas que ele montou para lucrar com a promessa do Brasil.

"O Brasil era o mercado favorito de todos. É fácil atirar pedras agora, mas ninguém colocou uma arma na cabeça de ninguém e disse você tem que comprar", diz Will Landers, que cuida dos fundos de ações da América Latina da Black Rock, maior gestora de recursos do mundo. Landers diz que a Black Rock vendeu grande parte dos ativos que tinha do grupo EBX, mas que ainda estava entre os maiores acionistas da OGX.

Batista disse que reconhece agora que o aumento dos preços do petróleo era uma bolha que o ajudou a crescer. Ele ainda acredita que o otimismo ligado à economia do Brasil não era um exagero. "O Brasil é esse gigante que supostamente vai cair num buraco e nunca cai porque ele é sempre maior que o buraco."

Vestindo um terno de risca e uma camiseta cinza durante a entrevista, Batista estava com os cabelos desalinhados e os olhos cansados. Ele disse que estava cansado das intensas rodadas de negociações, que algumas noites vão até às 4 da manhã.

Foto: Karime Xavier/Folhapress

Eike, "comendo vidro", no seu escritório no Rio de Janeiro

No auge de sua ascensão, nenhuma das empresas do grupo EBX causou mais agitação do que a OGX. Para criá-la, Batista montou um grupo de altos executivos vindos da Petrobras, que os investidores acreditavam ser ideais para selecionar os melhores campos de petróleo. Agora Batista diz que esses executivos eram bons em encontrar petróleo, não produzi-lo. E que eles não conheciam a geologia com a qual a OGX lidava. Pior, afirma, eles lhe entregavam relatórios brilhantes para convencê-lo a pagar gordos bônus. "A motivação não era necessariamente me apresentar a verdade", disse. Vários ex-executivos da OGX não quiseram comentar.

Eike diz que se sente à vontade para culpar os gestores da OGX, já que, como um executivo do setor de mineração, ele não tinha conhecimentos da indústria de petróleo para questionar os relatórios que eles apresentavam.

"Sou dono de um grande grupo. Eu sozinho não posso fazer isso. Eu poderia ser o dono de um hospital, mas sem 50 cirurgiões das suas respectivas áreas você não é nada. Não tenho o conhecimento específico. Você não pediria ao dono de um hospital para operar o seu rim", disse.

Batista acredita em sorte e superstições. "Se você olhar para o meu mapa astral, esse período não foi favorável para mim", disse. "A boa fase? Ela já começou, literalmente, este mês."

Ele já prevê um retorno. Profissionais do mercado que o encontraram nos últimos dias dizem que ele fala incessantemente sobre a história do empreendedor americano Elon Musk, fundador da empresa de pagamentos Paypal, da companhia de viagens espaciais SpaceX e da fabricante de carros elétricos Tesla Motors .

Ao longo da entrevista, ele citou várias vezes Musk como um empreendedor que foi desacreditado pelos investidores e depois mostrou que eles estavam errados. Ele acredita que vai ter o mesmo triunfo quando seu porto, sua mina e outras partes do grupo se tornarem rentáveis.

"Musk disse que começar uma empresa é como comer vidro", disse. "Eu estou comendo vidro.


Son Salvador - Estado de Minas (MG)

3 de jul. de 2013

Do Brasil à Turquia, uma revolução da classe média

ESTADOS UNIDOS - Opinião
Do Brasil à Turquia, uma revolução da classe média
Em artigo publicado no Wall Street Journal, o cientista político americano Francis Fukuyama afirma que “para essas pessoas, não é suficiente que a presidente Dilma Rousseff tenha sido ela mesma uma ativista de esquerda presa pelo regime militar durante os anos 70 e seja hoje líder do Partido dos Trabalhadores. Elas acham que o próprio partido foi tragado pela lama de um "sistema" corrupto", como revelou o recente escândalo do Mensalão, e agora contribui para a ineficácia e a inércia do governo.”

Foto: Reuters

BRASIL 22 de junho de 2013 | Manifestantes corrupção protesto e serviços públicos pobres.

Postado por Toinho de Passira
Texto de Francis Fukuyama*
Fontes: The Wall Street Journal, BBC Brasil

Durante os últimos dez anos, Brasil e Turquia foram muito celebrados como estrelas do desempenho econômico — mercados emergentes com uma influência crescente no palco internacional. Mas nos últimos três meses ambos os países vêm sendo paralisados por imensas manifestações que expressam insatisfação com o desempenho dos seus governos. O que está acontecendo? Será que outros países vão sofrer agitações semelhantes?

O tema que une os eventos recentes no Brasil e na Turquia, bem como a Primavera Árabe de 2011 e os contínuos protestos na China, é a ascensão da nova classe média global. Em todos os lugares em que emergiu, a moderna classe média causou fermentação política, mas só raramente ela foi capaz, sozinha, de provocar mudanças políticas duradouras. Nada que temos visto recentemente nas ruas do Rio de Janeiro ou Istambul indica que esses casos vão ser uma exceção.

No Brasil e na Turquia, assim como ocorreu antes na Tunísia e no Egito, as manifestações políticas vêm sendo lideradas não pelos pobres, mas por pessoas jovens com níveis de educação e renda acima da média. Elas são adeptas da tecnologia e usam as redes sociais, como Facebook e Twitter, para divulgar informações e organizar protestos. Mesmo aquelas que vivem em países democráticos se sentem alienadas pela elite política governante.

No caso da Turquia, elas se opõem às políticas de desenvolvimento a qualquer preço e às maneiras autoritárias do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan. No Brasil, elas se opõem a uma elite arraigada e altamente corrupta que alardeou projetos glamorosos como a Copa do Mundo e a Olimpíada do Rio, mas não consegue proporcionar serviços públicos básicos como saúde e educação.

Para essas pessoas, não é suficiente que a presidente Dilma Rousseff tenha sido ela mesma uma ativista de esquerda presa pelo regime militar durante os anos 70 e seja hoje líder do Partido dos Trabalhadores. Elas acham que o próprio partido foi tragado pela lama de um "sistema" corrupto, como revelou o recente escândalo do Mensalão, e agora contribui para a ineficácia e a inércia do governo.

Foto: Agência Europeia Pressphoto

TURQUIA 22 de junho de 2013 | Um manifestante segura uma bandeira na Praça Taksim, em Istanbul.

O mundo dos negócios vem falando sobre a ascensão de uma "classe média global" por pelo menos dez anos. Um relatório de 2008 do banco Goldman Sachs definiu esse grupo como aqueles com renda anual entre US$ 6.000 e US$ 30.000 e previu que ele chegaria a cerca de dois bilhões de pessoas até 2030. Um relatório de 2012 do Instituto para Estudos de Segurança da União Europeia, usando uma definição mais ampla de classe média, projetou que o número de pessoas nessa categoria aumentaria de 1,8 bilhão em 2009 para 3,2 bilhões em 2020 e 4,9 bilhões em 2030 (de uma população mundial projetada em 8,3 bilhões). O grosso desse crescimento vai ocorrer na Ásia, principalmente na China e na Índia. Mas todas as regiões do mundo vão participar da tendência, inclusive a África, que o Banco Africano de Desenvolvimento estima já ter uma classe média de mais de 300 milhões de pessoas.

As empresas estão com água na boca diante da perspectiva de uma classe média emergente porque ela representa um grande grupo de novos consumidores. Analistas e economistas tendem a definir a situação da classe média em termos simplesmente monetários, rotulando as pessoas como classe média se elas integram a faixa média de distribuição de renda dos seus países ou têm um consumo acima do nível de subsistência dos pobres.

Mas a situação da classe média é melhor definida pela educação, ocupação e bens possuídos, que têm uma influência muito maior na previsão do comportamento político. Estudos feitos em diversos países, incluindo pesquisas recentes do instituto Pew e a Pesquisa Mundial de Valores da Universidade de Michigan, mostram uma correlação entre níveis mais altos de educação e uma valorização maior pelas pessoas da democracia, liberdade individual e tolerância para com estilos de vida alternativos. As pessoas da classe média não querem somente segurança para suas famílias, mas opções e oportunidades para si próprias. Aqueles com nível superior completo ou que cursaram por alguns anos a universidade têm uma probabilidade muito maior de estarem informados sobre eventos em outras partes do mundo e de se conectarem com pessoas de classes sociais semelhantes no exterior através da tecnologia.

As famílias que possuem ativos duráveis como uma casa ou apartamento têm um interesse muito maior em política, já que essas são coisas que o governo poderia tirar delas. Como é geralmente a classe média que paga impostos, as pessoas têm um interesse direto em tornar o governo responsável. Ainda mais importante é que os novos membros da classe média têm uma probabilidade maior de serem levados a agir pelo que o cientista político Samuel Huntington chamou de "a lacuna": ou seja, a incapacidade da sociedade de satisfazer as expectativas crescentes por avanços econômicos e sociais. Enquanto os pobres se debatem para garantir sua sobrevivência diária, a decepcionada classe média é muito mais propensa a se engajar em ativismo político para conseguir o que quer.

Essa dinâmica ficou evidente na Primavera Árabe, em que as rebeliões que derrubaram regimes foram lideradas por dezenas de milhares de pessoas jovens e relativamente bem educadas. Tanto a Tunísia quanto o Egito formou um grande número de pessoas nas suas universidades durante a última geração. Mas os governos autoritários de Zine El Abidine e Hosni Mubarak foram clássicos regimes de capitalismo clientelista, nos quais as oportunidades econômicas dependiam grandemente das conexões políticas. Nenhum desses países, de qualquer modo, teve um crescimento econômico suficiente para dar emprego a uma população jovem cada vez maior. O resultado foi a revolução política.

Foto: European Pressphoto Agency

EGITO | Egípicios protestam em junho contra o presidente Morsi na praça Tahir, no Cairo.

Nada disso é um fenômeno novo. As revoluções francesa, bolchevique e chinesa foram todas provocadas por descontentamento de pessoas de classe média, mesmo que seu desfecho final fosse mais tarde afetado por camponeses, trabalhadores e pobres. Na Primavera dos Povos, em 1848, praticamente todo o continente europeu eclodiu numa revolução, um produto direto do crescimento da classe média europeia nas décadas anteriores.

Embora manifestações, rebeliões e, ocasionalmente, revoluções sejam tipicamente lideradas por membros recém-chegados à classe média, esta raramente consegue provocar sozinha mudanças políticas de longo prazo. A razão disso é que a classe média nunca representa mais que uma minoria da sociedade de países em desenvolvimento e é ela mesma internamente dividida. A menos que ela possa formar uma coalizão com outras partes da sociedade, seus movimentos quase nunca acarretam mudanças políticas duradouras.

Foi assim que os jovens manifestantes de Tunis ou da Praça Tahrir, no Cairo, tendo causado a queda dos seus respectivos ditadores, fracassaram em dar sequência ao movimento com a formação de partidos políticos que fossem capazes de disputar eleições nacionais. Estudantes, em particular, não têm ideia de como engajar os camponeses e a classe trabalhadora para criar uma coalizão mais ampla. Já os partidos islâmicos (o Ennahda, na Tunísia, e a Irmandade Muçulmana, no Egito), tinham, ao contrário, uma base social na população rural. Durante anos de perseguição política, eles aprenderam a mobilizar seus seguidores menos educados. Como resultado, triunfaram nas primeiras eleições depois da queda dos regimes autoritários.

Destino semelhante possivelmente aguarda os manifestantes da Turquia. O primeiro-ministro Erdoğan continua popular fora das áreas urbanas e não hesitou em mobilizar membros do seu próprio Partido da Justiça e do Desenvolvimento (o AKP) para enfrentar seus opositores. A classe média da Turquia, além disso, está ela própria dividida. O notável crescimento econômico do país nos últimos dez anos vem sendo alimentado em grande parte por uma nova classe média, conscienciosa e altamente empreendedora, que tem apoiado fortemente o AKP de Erdoğan.

Esse grupo social trabalha duro e poupa dinheiro. Ele exibe muitas das mesmas virtudes que o sociólogo alemão Max Weber associou ao Cristianismo Puritano dos princípios da Europa moderna, que ele alega ter sido a base para o desenvolvimento do capitalismo na região. Os manifestantes urbanos da Turquia, em contraste, continuam seculares e ligados aos valores modernistas dos seus pares na Europa e na América. Esse grupo enfrenta não somente uma dura repressão de um primeiro-ministro com instintos autoritários, mas também as mesmas dificuldades em forjar laços com outras classes sociais, dificuldades essas que minaram movimentos semelhantes na Rússia, Ucrânia e outros países.

A situação do Brasil é bem diferente. Os manifestantes brasileiros não enfrentarão uma dura repressão do governo de Dilma Rousseff. O desafio, em vez disso, será evitar a cooptação no longo prazo pelos representantes enraizados e corruptos do sistema. Ser de classe média não significa que a pessoa vai automaticamente apoiar a democracia ou tentar limpar o governo. De fato, uma grande parte da classe média brasileira mais velha trabalhou no setor público, onde ela era dependente da patronagem política e do controle do Estado sobre a economia. As classes médias no Brasil, e em países asiáticos como a China e a Tailândia, apoiaram governos autoritários quando isso pareceu ser a melhor maneira de garantir seu futuro econômico.

O recente crescimento econômico do Brasil produziu uma classe média diferente e mais empreendedora, emanada do setor privado. Mas esse grupo poderia seguir seus próprios interesses econômicos em duas direções possíveis. De um lado, a minoria empresarial poderia servir de base para uma coalizão de classe média que procurasse reformar o sistema político do Brasil como um todo, tentando fazer com que os políticos respondam por seus atos e mudar as regras que possibilitam o capitalismo clientelista. Foi isso que aconteceu nos Estados Unidos durante a Era Progressista, quando uma ampla mobilização da classe média conseguiu apoio para uma reforma do setor público e o fim do sistema patronal do século XIX. De modo alternativo, membros da classe média urbana poderiam dissipar suas energias em distrações como identidade política ou serem individualmente comprados por um sistema que oferece grandes recompensas para as pessoas que aprendem a navegar os trâmites do poder.

Foto: European Pressphoto Agency

TUNÍSIA | Milhares de manifestantes protestam em Tunis, em fevereiro de 2011.

Nada garante que o Brasil vai seguir um caminho reformista na esteira dos protestos. Vai depender muito da liderança. A presidente Rousseff tem uma grande oportunidade de usar as manifestações como uma ocasião para lançar um sistema de reforma mais ambicioso. Até agora, ela tem se mostrado muito cautelosa sobre até que ponto está disposta a ir contra o velho sistema, cerceada pelas limitações impostas pelo seu próprio partido e coligação política. Mas assim como o assassinato do presidente americano James A. Garfield, em 1881, por um ressentido postulante a um cargo oficial virou o estopim de uma ampla gama de reformas para limpar o governo, o Brasil hoje também poderia usar os protestos para enveredar por uma rota muito diferente.

O crescimento econômico mundial ocorrido desde os anos 70 — que quadruplicou a produção econômica global — redistribuiu as camadas sociais ao redor do mundo. As classes médias nos chamados "mercados emergentes" são hoje maiores, mais ricas, melhores educadas e mais conectadas tecnologicamente do que nunca na história.

Isso tem consequências imensas para a China, cuja população de classe média chega agora às centenas de milhões e constitui talvez um terço do total. Essas são pessoas que se comunicam pelo Sina Weibo — o Twitter chinês — e se acostumaram a expor e reclamar da arrogância e duplicidade do governo e do partido de elite. Elas querem uma sociedade mais livre, embora não esteja claro se querem uma democracia de um voto por pessoa no curto prazo.

Esse grupo vai ficar sob uma pressão particular na próxima década, enquanto a China se esforça para se elevar de uma situação de renda média para renda alta. O ritmo do crescimento econômico já começou a diminuir nos últimos dois anos e vai inevitavelmente reverter para um nível mais modesto à medida que a economia do país amadurece. A máquina de empregos industriais que o regime criou desde 1978 não vai mais satisfazer as aspirações da sua população. A China já forma nas suas universidades cerca de seis a sete milhões de profissionais por ano, cujas perspectivas de emprego são menos brilhantes do que as dos seus pais da classe trabalhadora. Se alguma vez houve uma lacuna entre expectativas em alta crescente e uma realidade decepcionante, ela vai emergir na China nos próximos anos, com vastas implicações para a estabilidade do país.

Na China, como em outras partes do mundo em desenvolvimento, a ascensão da classe média ressalta o fenômeno descrito por Moises Naím, do centro de estudos Carnegie Endowment, como o "fim do poder". As classes médias vêm sendo as linhas de frente da oposição contra os abusos do poder, seja em regimes autoritários ou democráticos. O desafio para elas é tornar seus movimentos em mudanças políticas duradouras, expressas na forma de novas regras e instituições. Na América Latina, o Chile vem sendo a estrela do crescimento econômico e da eficácia de um sistema político democrático. Ainda assim, nos últimos anos houve uma explosão de protestos de estudantes do ensino médio, que apontaram as falhas no sistema de educação pública do país.

A nova classe média não é apenas um desafio para os regimes autoritários ou para as novas democracias. Nenhuma democracia estabelecida deve acreditar que pode relaxar sobre seus louros, simplesmente porque realiza eleições e tem líderes populares. A classe média fortalecida pela tecnologia vai ser altamente exigente com seus políticos.

Os EUA e a Europa estão passando por uma fase de crescimento lento e desemprego alto, que para os jovens em países como a Espanha já chegou a 50%. No mundo rico, a geração mais velha também traiu os jovens ao deixar para eles um endividamento elevado. Nenhum político dos EUA e da Europa deve olhar com complacência para os eventos se desdobrando nas ruas de São Paulo e Istambul. Seria um grave erro pensar: "Não há como isso acontecer aqui."


*FRANCIS FUKUYAMA é um nipo-estadunidense, filósofo, economista, cientista político e acadêmico do Instituto Freeman Spogli para Estudos Internacionais da Universidade de Stanford. Ficou conhecido pelo livro "O Fim da História e o Último Homem" ("The End of the History and the Last Man", 1992). Seu mais recente estudo publicado é o livro "As Origens da Ordem Política: Dos Tempos Pré-Humanos até a Revolução Francesa", Editora Rocco, 2013
Uma versão deste artigo apareceu 29 junho de 2013, na página C1 na edição do The Wall Street Journal EUA, com o título: The Middle-Class Revolution.

17 de jul. de 2012

A rainha da zona - por Lucas Mendes

OPINIÃO
A rainha da zona
Onde você estiver em Nova York, do bairro mais pobre ao mais rico, você esta na zona da Amanda. - Lucas Mendes fala da urbanista Amanda Burden, a segunda pessoa mais poderosa da cidade de Nova Iorque. Ou será a primeira?

Foto: Sean Donnola/Wall street Journal

Amanda Burden: The Wall Street Journal a chama de princesa urbana e diz que seus projetos de revitalização para Nova Iorque servem de modelo para o mundo

Postado por Toinho de Passira
Texto de Lucas Mendes De Nova York para a BBC Brasil
Fontes: BBC Brasil, Archdaily, The New York Times, The Wall Street Journal

No começo da década de 60, ela era tão bonita e bem vestida que tomou de Jacqueline Kennedy o lugar de mulher mais elegante do mundo.

E bem nascida. Tem um pedigree do cão. O pai era herdeiro da Standard Oil. A mãe era personagem de Truman Capote. A madrasta era filha de Averell Harriman, herdeiro de empresas ferroviárias e embaixador americano na União Soviética, e o padrasto era William S. Paley, criador da rede CBS, o Roberto Marinho dos 60 e 70 nos Estados Unidos.

Tem mais. Casou-se pela primeira vez com Carter Burden, multimilionário descendente do Comodoro Vanderbilt, homem dos navios e das ferroviárias e assessor de Robert Kennedy.

O segundo casamento foi com Steven Ross, presidente da Warner Communications, que foi patrão de Pelé no Cosmos e é vizinho nos Hamptons. É difícil encontrar um DNA nos Estados Unidos com tanta história e cifrões, mas em 2010 o patrimônio dela era de apenas US$ 13 milhões.

Foto John Orris/The New York Times
Amanda Burden nos tempos de socialite, 1966
O primeiro emprego desta aristocrata americana foi como professora assistente no Harlem. Na faculdade, estudou comportamento animal e se apaixonou por pássaros.

Durante uma entrevista no restaurante Odeon, onde costuma almoçar, uma jornalista cobrou dela o conhecimento sobre passarinhos. Ela deu uma lição sobre as mais de 300 variedades que passam pelo Central Park e surpreendeu os vizinhos de mesa com um sonoro "pi pi pi piii". Imitou vários pássaros: "Não moram aqui. Nova York é só uma escala para canto e descanso. Fazem seus ninhos no Canadá e passam o inverno na América do Sul".

Anos depois, voltou para a faculdade e fez um mestrado na Columbia sobre urbanismo, com uma premiada tese sobre reciclagem de lixo. Faltou dizer que, aos 67 anos, chama atenção pelo corpo e pelo rosto. Linda e, como diz o Times, "impossivelmente magra". Fenômeno novaiorquino que não passou despercebido pelos ricos, políticos e poderosos.

Depois do divórcio de Steven Ross, circulou pela cidade com os senadores Ted Kennedy, Chistopher Dodd e o colega jornalista Charlie Rose, um dos melhores entrevistadores da televisão americana com quem tem uma relação romântica antiga e intermitente.

A guinada definitiva de socialite para trabalhadora foi inspirada pelo urbanista William "Holy" White, especialista em descobrir espaços mal utilizados nas cidades. Ela batia perna pela cidade com ele e até hoje não só caminha como pedala e fotografa Nova York e outras cidades do mundo.

Em 1990, ela foi nomeada para a Comissão de Planejamento Urbano, se tornando uma espécie de subsecretária, na época, com mais charme do que poder. Foi o prefeito Bloomberg que deu a ela superpoderes a partir de 2002.

Nem Batman, Super-Homem, Homem-Aranha, quem mais?, enfim, nenhum teria mais impacto do que Amanda Burden tem. Não foi na base da fantasia nem da maquiagem.

Com o poder de mudar o zoneamento, ela fez e aconteceu em 8.400 quarteirões dos cinco bairros, e nos próximos 18 meses vai rezonear partes pobres e nobres de Manhattan, como o lado leste da ilha, entre as ruas 40 e 57.

A avenida Park e a estação Grand Central estão no alvo. Em 10 anos anos, ela mudou a cidade mais do que nos últimos 100 e, se você acredita nos jornais, ela é a pessoa mais poderosa de Nova York depois do prefeito Bloomberg.

Eu acho que a líder da Comissão e provável futura prefeita tem mais poderes, mas não vale a pena entrar neste debate.

Fotos: Archdaily



Highline: Uma linha de trem abandonada transformada num éden urbano, no coração de Nova Iorque

O sucesso mais conhecido pelos turistas é a linha do antigo trem elevado, o Highline, transformado num parque suspenso, copiado de um projeto parisiense.

Deu uma injeção de US$ 2 bilhões no bairro de Chelsea e gerou 12 mil empregos. Rezoneou Coney Island, grandes partes do Brooklyn e do Bronx, mas entre as áreas favoritas dela em NY não há nenhuma conhecida atração turística.

Gosta de uma rua de antiguidades no Bronx, da Governors Island, de um mercado de pulgas em Williamsburg, no Brooklyn, do Luna Park em Coney Island.

Amanda mexeu e vai mexer com as alturas dos prédios, a largura das calçadas, plantas e desenhos dos parques e áreas à beira d’água que eram pobres e decadentes e hoje são modelos de vitalidade.

Com o guru urbanista, ela aprendeu que a força das cidades está nas ruas, nas relações entre o prédio e os moradores, nas calçadas e onde o concreto encontra o céu.

Foto: Archdaily

Jogando duro com construtoras e arquitetos

Amanda discute os tintins com as construtoras e arquitetos. A posição dos bancos com relação ao sol, o número de degraus de escadas num parque - não devem passar de cinco. "Ela é um pé no saco", dizem os críticos, que acusam Amanda de limitar a criatividade dos construtores quando mantém os padrões estéticos da vizinhança e limites de altura.

Também é acusada de autorizar mudanças que expulsam os pobres dos bairros rezoneados, mas o plano de habitação do prefeito promovido por ela cria 160 mil moradias para inquilinos de baixa renda.

Nova York, eu digo, está cada vez melhor. Viva a rainha da zona!

Tive com ela uma curta, preciosa e humilhante conexão. Estava na fazenda de um amigo, a duas horas de Nova York, três da tarde, segunda-feira, verãozão, nenhum movimento, nem na estrada ou nas folhas das árvores.

Armei o fogo para uma carne, abri as portas do carro e deixei o som sair pelos dez alto-falantes.

Atravessava uma fase de ópera que, felizmente ou infelizmente, passou. A soprano estava no último furo quando apareceu uma mulher linda, descalça, enrolada numa toalha. Fiquei sem reação, na cadeira, com o copo na mão. Ela examinava o cenário e também não dizia nada. Finalmente saiu – um "Olá, tudo bem? Você quer um copo d’água? Café? Precisa de alguma coisa?".

"Não", ela respondeu. "Sou Amanda. Vizinha de frente. Só queria saber de onde vinha esta música tão linda."

Além de rainha da zona, é um modelo de boas maneiras. Nunca fui chamado de cafajeste de forma tão educada. Pedi mil desculpas e, apesar dos protestos dela, falsos, silenciei a soprano.


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