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10 de out. de 2013

Finalmente o governo vai interferir em beneficio da brasileira, Ana Paula, do Greenpeace, presa na Rússia

BRASIL – RÚSSIA
Finalmente o governo vai interferir em beneficio da brasileira, Ana Paula, do Greenpeace, presa na Rússia
A Justiça russa indiciou formalmente os 30 ativistas do Greenpeace, de 19 países, inclusive a brasileira, presos pela guarda costeira russa, após tentarem invadir simbolicamente escalar uma plataforma de extração de petróleo, da estatal petrolífera russa Gazprom, protestando contra a exploração de petróleo no Círculo Polar Ártico. Só hoje, Dilma determinou ao Itamaraty providências visando proteger os direitos da brasileira.

Foto: Alex Yallop/Greenpeace

Ana Paula a bióloga gaúcha, ativista do Greenpeace que está presa na Rússia, sob a grave e infundada acusação de pirataria

Postado por Toinho de Passira
Fontes:  BBC Brasil, G1, Zero Hora, Greenpeace, Flickr, Pravda, Izvestia, Pravda, Opera Mundi

O governo brasileiro finalmente se posicionou dizendo que vai tentar ajudar a encontrar uma solução via diplomática junto ao governo da Rússia, para o caso da bióloga gaúcha Ana Paula Maciel, detida junto com um grupo de ativistas do Greenpeace em 24 de setembro e exageradamente acusada de pirataria pelas autoridades russas, crime que pode levar a uma pena de 15 anos de prisão.

A presidenta divulgou no Twitter nesta quinta-feira, que solicitou "ao ministro (de Relações Exteriores Luiz Alberto) Figueiredo contato de alto nível com o governo russo para encontrar solução para Ana Paula" e pediu que o Itamaraty dê "toda a a assistência à brasileira", vinte dias após os fatos terem ocorrido.

brasileira e outros 29 ativistas estão em um centro de detenção na cidade de Murmansk desde que seu barco foi interceptado pelas autoridades russas durante um protesto em uma plataforma petroleira no Ártico.

O Itamaraty informou à BBC Brasil que uma agente consular da embaixada brasileira esteve com Ana Paula na quarta-feira e está acompanhando o agendamento de uma audiência, possivelmente na semana que vem, em que será solicitado que Ana Paula aguarde em liberdade as investigações russas sobre o episódio.

Outros países também têm intercedido pelos ativistas (que são de 18 nacionalidades). A Holanda exigiu a libertação imediata dos prisioneiros e do navio Arctic Sunrise, que é de bandeira holandesa.

A Chancelaria do Reino Unido também discutiu o caso dos seis britânicos detidos com o embaixador russo no país.

Foto: EPA

o Arctic Sunrise retido no porto de Murmansk, a disposição da justiça russa.

DROGAS NO NAVIO

Na quarta-feira, investigadores russos alegaram terem encontrado "drogas" - aparentemente, palha de papoula e morfina - no navio do Greenpeace.

Em comunicado, a ONG disse que a acusação é uma "calúnia e uma invenção".

"Só podemos deduzir que as autoridades russas estão se referindo aos suprimentos médicos que nossos navios são obrigados a levar, sob a lei marítima", disse a ONG.

"Há uma rígida norma contra (a posse) de drogas recreacionais em navios do Greenpeace, e deve ser vista com grande desconfiança qualquer acusação de que foram encontrados suprimentos que não sejam médicos", prossegue o comunicado.

Também na quarta-feira, a ONG informou que a mãe de Ana Paula, Rosângela Maciel, enviou uma carta para Dilma pedindo que a presidente peça a libertação de sua filha ao presidente russo, Vladimir Putin.


Ana Paula enjaulada no tribunal russo
QUÉM É ANA PAULA?

Ana Paula Alminhana Maciel, 31 anos, bióloga, gaúcha é ativista do Greenpeace desde 2006.

Formada em Biologia pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Canoas, Rio Grande do Sul, Ana Paula se juntou ao Greenpeace como voluntária em para fazer uma espécie de estágio no navio “Arctic Sunrise ”.

Mal sabia que esta se tornaria sua segunda casa. No fim do estágio, foi convidada para fazer parte da tripulação fixa do navio no que aceitou emocionada.

Na sua primeira ação, em maio de 2006, ficou detida por algumas horas em uma tensa manifestação em Santarém, no Pará, contra o desmatamento provocado pela indústria de soja.

Um mês depois, foi presa e deportada na ilha de São Cristóvão e Névis, no Caribe, onde participava de um protesto contra a caça comercial de baleias.

A cada três meses, Ana Paula embarca em um navio, atua como ativista e marinheira e volta para descansar por mais três meses, esquema no qual trabalha até hoje. Pelos colegas, Ana Paula é descrita como uma pessoa mito comunicativa.

Onze dias depois de ter sido presa pela Marinha russa, a bióloga foi ouvida, pelo tribunal da cidade de Murmansk, no noroeste da Rússia, e ficou determinado que terá de ficar, inicialmente, pelo menos dois meses em prisão preventiva, enquanto o processo prossegue.

Mantida em uma pequena jaula, tradicionais em tribunais russos, diante do juiz, Ana Paula sorriu por instantes e exibiu uma anotação em inglês: "Save the Arctic" (Salve o Ártico).

Fotos: Denis Sinyakov/Greenpeace



Manobras dos ativistas do Greenpeace para escalar a plataforma russa em pleno Ártico

PROTESTO

A tripulação, de 30 pessoas de 19 países, que está presa na Rússia, sob acusação de pirataria, operavam o navio quebra-gelo Arctic Sunrise do Greepeace, que foi até o Ártico, no Mar Pechora, sul de Nova Zembla, Rússia, para realizar um ato de protesto pacifico, para chamar a atenção dos riscos ambientais da extração de petróleo no Ártico.

Dois alpinistas da equipe do Greepeace tentaram escalar a plataforma Prirazlomnaya, da gigante estatal russa Gazprom, a primeira existente no mundo, desenvolvida para operar a extração de petróleo em águas profundas no Ártico.

O jornal russo Pravda, diz que o além das prisões dos ativistas, a justiça russa pretende confiscar o navio do Greenpeace o Arctic Sunrise , apreendido quando do protesto na plataforma de petróleo e escoltado para o porto de Murmansk, onde se encontra fundeado, a disposição da justiça russa.

Foto: Denis Sinyakov/Greenpeace

Comandos da guarda costeira russa, no momento da abordagem aos ativistas no Greepeace

Se para os ativistas tudo não passou de um protesto pacifico e até rotineiro, para a guarda costeira russa, diante da tentativa de invasão a plataforma Prirazlomnaya, o incidente foi tratado militarmente como um ato criminoso internacional.

Em poucos minutos os ativistas viram-se cercados com barcos infláveis conduzindo militares fortemente armados e prontos para abrirem fogo, enquanto o navio do Greenpeace era ocupado por outro comando anfíbio, que desembarcou no convés do barco, descendo de helicópteros através de escadas de cordas, como nos filmes de ação.

Seguramente não houve violência, porque os integrantes do Greenpeace, treinados para saber se comportar de forma inequívoca nestas circunstancia, demonstraram fartamente que não pretendiam esboçar qualquer reação de resistência, submetendo-se obediente e pacificamente as ordens dos militares.

O Greenpeace diz haver farta evidência científica que qualquer derramamento de óleo, acidental, a partir de Prirazlomnaya, no mar Pechora, afetaria mais de 3.000 milhas (4,800 km) da costa norte da Rússia.

Para a Rússia, cuja desaceleração da economia está fortemente dependente das receitas de exportação de energia, apostas todas as fichas na esperanças de que o óleo e gás do Ártico ajudem decisivamente no crescimento econômico, os ativistas do Greenpeace, que tentam impedir ou dificultar as atividades das plataformas, são vistos como perigosos inimigos.

27 de ago. de 2013

Fuga de senador boliviano faz Dilma demitir Patriota

BRASIL - Crise Diplomática
Fuga de senador boliviano faz Dilma demitir Patriota
Antonio Patriota, o Ministro das Relações Exteriores, será substituído no cargo por Luiz Figueiredo, representante do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU)

Foto: Valter Campanato/ABr
DEGOLA - Antonio Patriota, ministro de Relações Exteriores: demitido após o resgate do senador boliviano, após dois anos e oito meses à frente da diplomacia brasileira

Postado por Toinho de Passira
Fontes: Veja, Folha de S. Paulo, Estadão

A presidente Dilma Rousseff demitiu na noite desta segunda-feira o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. Ele perdeu o cargo após a fuga para o Brasil do senador boliviano Roger Pinto Molina, que passou mais de um ano asilado na embaixada brasileira em La Paz. Opositor do governo Evo Morales, Molina é acusado de corrupção em seu país.

Patriota será substituído no cargo por Luiz Figueiredo, representante do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU).

O ex-ministro das Relações Exteriores substituiu Celso Amorim (hoje ministro da Defesa), que foi um do seu principal padrinho na carreira diplomática. Ao contrário de Amorim, no entanto, ele tinha estilo discreto e nunca agradou à presidente Dilma. O resgate do senador boliviano foi o último em uma série de episódios que fizeram Dilma avaliar que Patriota exercia mal e pouco sua liderança à frente da chancelaria brasileira.

Além da avaliação já consolidada do perfil de Patriota no posto, pesou o fato de que um senador do PMDB, Ricardo Ferraço (ES), tenha sido o interlocutor do diplomata brasileiro Eduardo Saboia na empreitada que trouxe Molina ao país. Saboia usou um carro da representação brasileira em La Paz para percorrer um trajeto de 1.600 quilômetros até Corumbá (MS). O veículo dispõe de imunidade diplomática e foi escoltado por dois fuzileiros navais brasileiros.

Oficialmente, o governo brasileiro afirmou que Patriota entregou o cargo. "A presidenta Dilma Rousseff aceitou nesta segunda-feira o pedido de demissão do ministro Antonio de Aguiar Patriota, e indicou o representante do Brasil junto às Nações Unidas em Nova York, embaixador Luiz Alberto Figueiredo, para ser o novo ministro das Relações Exteriores. A presidenta agradeceu a dedicação e o empenho do ministro Patriota nos mais de dois anos em que permaneceu no cargo e anunciou a sua indicação para a Missão do Brasil na ONU", diz a nota divulgada nesta noite.

O governo brasileiro afirma não ter autorizado a operação, que provocou mal-estar nas relações diplomáticas com o país vizinho. A versão oficial coincide com o que se ouve no Itamaraty: Saboia teria agido sem comunicar Patriota.

Foto: Nicolas Garrido/Reuters

INCOMPATÍVEIS - Patriota teve que defender teses que abominava para se manter no cargo, mesmo assim, não conseguia a simpatia da turrona e enfezada Dilma Russeff

AS TURRAS

A relação entre o ex-chanceler Antonio Patriota e a presidente Dilma Rousseff nunca foi tranquila. Secretário-geral sob Celso Amorim, Patriota foi indicado à presidente pelo atual ministro da Defesa. Dilma, que nunca teve muito apreço pela diplomacia, gostou do perfil discreto e contido do embaixador mas, em pouco mais de dois anos e meio, não foram poucas as vezes em que entrou em crise com seu chanceler. Como disse o jornalista da Globo, Álvaro Pereira, o sangue de Dilma nunca combinou com o de Patriota.

O maior "desconforto" entre os dois possivelmente foi a entrada da Venezuela no Mercosul, feita à revelia do Itamaraty. Apesar de concordar com a suspensão do Paraguai, Patriota foi contrário a que se usasse a suspensão para incorporar os venezuelanos. Dilma, no entanto, conseguiu um parecer da Advocacia Geral da União e mandou tocar adiante a operação. O ministro Patriota, diplomaticamente passou meses defendendo uma ação que desaprovava nos bastidores da diplomacia.

Durante a Rio+20, a presidente e o chanceler tiveram outro atrito. Apesar de ser a anfitriã, Dilma, que estava na reunião do G20, no México, não queria fazer o discurso de abertura do encontro no Rio. Auxiliares próximos puderam ouvir a discussão dos dois, por telefone. A presidente terminou por discursar, mas de cara amarrada.

Outra crise aconteceu pouco depois do início da guerra civil na Síria. A delegação brasileira havia sido a principal negociadora de uma nota mais dura - "com dentes", como disseram alguns diplomatas - mas, antes de aprovar a votação, a presidente quis saber como votariam os demais membros do Conselho de Segurança. Ao saber que não havia unanimidade, mandou a missão brasileira se abster, o que causou enorme irritação entre os diplomatas.

Há cerca de um ano, Patriota era dado como "demitido" por auxiliares da presidente. Pouco afeita às firulas da diplomacia, a presidente se irritava com questões levadas pelo chanceler e via pouca utilidade em algumas das viagens que Patriota insistia que ela fizesse. Ainda assim, tinha dificuldades de encontrar um substituto.

Políticos e outros Ministros assistiram por inúmeras vezes tratamento vexatório e humilhante que Dilma dispensava a Patriota, em dose exagerada, mais desrespeitosa do que costuma ser com o resto do ministério. Subservientemente Patriota curvava-se para se manter no cargo. O caso da fuga do embaixador boliviano acabou sendo a gota d'água que fez transbordar o copo da paciência presidencial, cansada da polidez e da formalidade do ministro demissionário. A demissão de Patriota agora vai ser útil para reduzir a tensão entre a presidenta e o boliviano Evo Morales, que por sua vez, finge está zangado com a fuga do senador Ricardo Pinto, mas interiormente feliz por ver o adversário longe da Bolívia.

26 de ago. de 2013

A história da fuga do senador boliviano para o Brasil, contada pela senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES)

BRASIL – Asilo de Pinto Molina
A história da fuga do senador boliviano para o Brasil,
contada pela senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES)
Após 455 dias abrigado na Embaixada do Brasil na Bolívia, o senador de oposição Roger Pinto Molina, de 53 anos, para chegar ao Brasil, enfrentou 21 horas e meia de viagem de carro, saindo de La Paz, passando por Cochabamba, Santa Cruz de La Sierra, Puerto Soares até chegar à cidade brasileira de Corumbá (MT). A fuga só foi possível devido a determinação do diplomata brasileiro Eduardo Saboia, que arriscou sua carreira com essa decisão e a ajuda do senador Ricardo Ferraço

Foto: Captura de vídeo Globo News

Senador Ferraço e o senador boliviano Pinto Molina, na chegada Aeroporto Brasilía, na madrugada do domingo

Postado por Toinho de Passira
Fontes: Blog do Josias de Souza, La Razón, El Diário, La Prensa, Globo News, Agência Brasil, Fantastico

A fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina, desde a embaixada brasileira em La Paz, até Brasília, começa a ser desvendada, pelas declarações dos principais personagens. É uma aventura de suspense e ação quase cinematográfica. Depois de 455 dias de refúgio forçado numa sala da embaixada brasileira em La Paz, o líder da oposição ao governo de Evo Morales dormiu em Brasília na madrugada de sábado para domingo.

Pinto Molina deve sua liberdade a uma ousada operação secreta que reuniu, à revelia do Itamaraty, um diplomata brasileiro inconformado, dois fuzileiros da Marinha, um senador do PMDB, e uma equipe de cinco agentes da Polícia Federal.

O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) que ajudou nos momentos finais da execução da fuga, preside a Comissão de Relações Exteriores do Senado. Entrou na operação a pedido do diplomata Eduardo Saboia, encarregado de negócios e titular interino da representação diplomática brasileira em La Paz, contou ao Blog do Josias de Souza, sua participação na operação:
— Como se interessou pelo caso do senador boliviano Roger Pinto?

Em março, eu fui à Bolívia para averiguar a situação dos torcedores do Corinthians que estavam presos na cidade de Oruro. Na volta, fiz uma visita ao senador Roger. Encontrei-o numa sala do segundo andar do prédio administrativo da embaixada brasileira, em La Paz. Improvisaram um quarto num escritório. Mede uns 3m X 6m. Fuzileiros da Marinha guardavam a porta. Fiquei impressionado com aquela situação. De lá para cá, venho agendando no Senado. Nada evoluiu.

— O sr. se manteve em contato com a embaixada brasileira em La Paz?

Sim. Tem lá um diplomata, encarregado de negócios, chamado Eduardo Saboia. A embaixada está sem embaixador há muito tempo. É ele quem está respondendo pelo posto. Ele notou uma deterioração do estado de saúde do senador boliviano. Havia um quadro de depressão. Vendo tudo isso, e percebendo a ausência de perspectiva de solução para o caso, o Saboia chegou a me confidenciar, de maneira muito pessoal, que estava com medo de que o senador boliviano se suicidasse. Ele me disse que estava pensando em tirar o senador de lá.

— Qual foi a sua reação?

O que eu fiz foi entusiasmá-lo a tomar uma decisão. Fiz isso por solidariedade humana. Eu só vi o senador Roger Pinto duas vezes. Em março, quando estive em La Paz, e neste sábado.


Primeira página dos principais jornais bolivianos nesta segunda, as manchetes principais referem-se a fuga do senador

— O diplomata Eduardo Saboia autorizou a fuga?

Ele fez muito mais do que isso. O Saboia organizou a saída, colocou o Roger no carro da embaixada e trouxe ele até o Brasil. Os fuzileiros navais brasileiros deram cobertura durante todo o percurso. Percorreram um caminho complicado. Foram mais de 1.500 km, passando por regiões com produção de coca, até chegarem a Corumbá, no Mato Grosso do Sul. O Saboia foi a figura central no episódio.

— O sr. foi comunicado da operação com antecedência?

A gente vinha conversando, trocando ideias. Mas, quando eu soube, a operaçao já estava em curso. Quando o Saboia me ligou, eles já estavam próximos da fronteira. Estava muito tenso. Ele criou uma relação de confiança comigo desde que o conheci, em março, na Bolívia. Eu dava retorno a ele. Esteve no Brasil duas vezes. E foi recebido por mim na Comissão de Direitos Humanos. Coloquei o assunto na agenda da comissão.

— Qual foi o seu papel na operação de fuga?

Eu vinha acompanhando o processo, toda a angústia do Saboia. Neste sábado, eu estava em Vitória [ES], na minha casa, quando recebi um telefonema dele, pedindo ajuda.

— Que hora foi isso?

Era hora do almoço.

— O que o sr. fez?

Tentei contactar autoridades brasileiras.

— Que autoridades?

Na verdade, liguei para o presidente do Senado [Renan Calheiros]. Mas não consegui falar. Deixei recado.

— E daí?

Telefonei para o aeroporto de Vitória. Tinha um jato privado, de uma empresa capixaba. Liguei para o dono. Não dei detalhes, não queria que vazasse. Mas esclareci que precisava do avião para uma missão importante. Que envolvia uma pessoa correndo risco de vida. Ele se sensibilizou e me emprestou o avião.

— Como se chama o empresário?

Prefiro não dizer, até porque ele não sabia exatamente do que se tratava. A responsabilidade é minha.

— Ele cedeu o avião graciosamente, sem cobrar?

Sim, isso mesmo.

— É seu amigo?

É conhecido meu, mas não é pessoa íntima. Decidi pedir. Se não desse, paciência. Não sou pessoa de me omitir. A omissão é o pior dos pecados.

— A que horas decolou de Vitória?

Levantamos voo pouco antes das seis da tarde, umas cinco e meia. Desci em Corumbá à noite. O aeroporto estava meio vazio, sem muito movimento. Fiquei esperando umas duas ou três horas. Logo fui abordado por um agente da Polícia Federal. Eu me identifiquei, dei meus documentos. O cara ligou para o superior dele. Dali a mais ou menos uma hora, chegou o agente com o senador boliviano. Me entregou ele. Embarcamos para Brasília. Chegamos na cidade perto de uma e meia da madrugada.

Foto: captura de vídeo Globo News

Senador boliviano Roger Pinto Molina em entrevista a Globo News

— A Polícia Federal foi buscar o senador boliviano do outro lado da fronteira?

Não. Quando ele chegou ao Brasil, na fronteira, estava acompanhado do diplomata brasileiro e escoltado por dois fuzileiros navais do Brasil. Os fuzileiros o atravessaram na fronteira. A Polícia Federal foi procurá-los no hotel.

— Então, eles chegaram a se hospedar num hotel em Corumbá?

Sim, chegaram na cidade por volta de duas horas da tarde de sábado. E foram para o hotel. O Saboia me ligou do hotel.

— Quem acionou a Polícia Federal foi o diplomata Eduardo Saboia?

Não sei dizer. Sei que a PF foi até o hotel, me contactou no aeroporto e apareceu lá com o senador Roger Pinto.

— A Polícia Federal foi acionada por alguém, não?

Eu não tenho esse detalhe. Sei que o Saboia estava tentando fazer contato com o ministro Celso Amorim [Defesa], com o José Eduardo Cardozo [Justiça]. Não sei se conseguiu. Foi tudo muito rápido. Não deu para perguntar tudo.

— Acredita que ele tenha dado ciência da movimentação ao Itamaraty?

Não acho improvável que ele tenha sinalizado alguma coisa. Como ele está respondendo pela embaixada há meses, não é nenhum absurdo supor que ele tenha manifestado aos seus superiores que a situação estava no limite, e que, se ele tivesse oportunidade, faria alguma coisa. Talvez as pessoas no Brasil não acreditassem que ele tivesse disposição para fazer.

— Quando o senador Roger Pinto chegou ao aeroporto de Corumbá, estava acompanhado de grande aparato de segurança?

Umas sete pessoas davam segurança a ele. Cinco agentes da Polícia Federal, bem armados, e os dois fuzileiros navais que o haviam acompanhado desde La Paz.

— O Eduardo Saboia não foi ao aeroporto?

Não. Eu insisti muito para que ele voasse com a gente até Brasília. Mas ele preferiu não nos acompanhar.

— Ele decerto está ciente de que pode sofrer sanções administrativas, não?

Obviamente, ele não ignora os riscos. Mas acho que deveria ser condecorado, jamais punido. Tomou uma decisão corajosa. Ao viajar junto com o senador, pôs inclusive a própria vida em risco. Conversamos muito. Sei que ele fez isso por não suportar a indiferença de ver um perseguido político se deteriorando numa sala, como se fosse um resto de gente. Era essa a situação do senador na Bolívia.

— Pelo que conversavam, o Eduardo Saboia planejava essa operação há muito tempo?

Ele revelava, há algum tempo, muito incômodo com a falta de definição e de determinação do governo brasileiro, em função de ter concedido o asilo político e não ter obtido o salvo-conduto para o deslocamento do asilado. O Saboia é uma figura muito comprometida com os direitos humanos. É um homem muito sério. O que o moveu foi a indignação.

— Na sua opinião, o governo brasileiro se portou mal no episódio?

Não há nenhuma dúvida a esse respeito. Sou um crítico da falta de determinação da diplomacia brasileira nesse caso. Nossa diplomacia por vezes é muito companheira dos nossos vizinhos bolivarianos. Há um nítido viés ideológico nas relações. Acho um absurdo que o governo brasileiro, após conceder o asilo ao senador, não tenha se empenhado para obter o salvo-conduto.

— Na sua avaliação, faltou pressionar a Bolívia?

O salvo-conduto é uma consequência natural do asilo político, que por sua vez é uma decisão unilateral do país que concede. Mesmo nos momentos mais duros das ditaduras sulamericanas, como a do Chile, nunca um salvo-conduto para o Brasil foi negado. O governo brasileiro deveria ter exigido da Bolívia o salvo-conduto. No mês passado, em encontro de cúpula do Mercosul, no Uruguai, os chefes de Estado do grupo aprovaram uma nota concluindo que o asilo é decisão soberana dos países. Referiam-se ao caso do Edward Snowden [ex-técnico terceirizado da CIA]. Entre os signatários está o Evo Morales. Por que as regras do asilo valem para o Snowden e não valeriam para o senador Roger? Não faz o menor sentido.

Foto: Caputura de vídeo Fantástico

Diplomata brasileiro Eduardo Saboia entrevista no Fantastico

— Depois do desembarque em Brasília, o senador boliviano foi para um hotel?

Chegamos à Capital na madrugada de sábado para domingo. Eu tinha oferecido minha casa para ele pernoitar. Ele tinha topado. Mas, no meio do caminho, falou com o advogado dele. E preferiu ir para a casa desse advogado.

— Então, ele tem um advogado em Brasília?

Sim. Chama-se Fernando Tibúrcio. Peticionou em nome dele junto ao STF, pedindo providências ao governo brasileiro.

— O senador Roger Pinto responde a mais de 20 processo na Bolívia. É acusado de corrupção. Está seguro de que as acusações são falsas?

Confio muito na avaliação do Eduardo Saboia. No caso dos torcedores corintianos, já libertados, ele tinha me dito que nenhum deles tinha envolvimento com a morte daquela menino boliviano, no estádio de Ururo. E o Saboia me passa a mesma segurança em relação ao caso do senador Roger. Ele está muito seguro, pelos dados que obteve, de que o senador é perseguido pelo governo do Evo Morales. Diz que as acusações que pesam contra ele fruto de disputa política. Ele é o líder da oposição. Não o conheço em profundidade. Mas pergunto: se ele fosse um criminoso, o governo brasileiro teria concedido o asilo político?

— Sobre o quê o sr. e o senador boliviano conversaram durante o voo de Corumbá até Brasília?

Ele me pareceu em estado de choque. A ficha ainda não havia caído. Ele parecia ainda não acreditar na possibilidade de ser um homem livre. Me disse que contou os dias em que ficou retido numa sala. Foram 455 dias. Na cabeça dele, a estratégia do governo da Bolívia era vencê-lo pelo cansaço. Esperavam que ele não aguentasse e saísse à rua, para ser preso. É um homem de família, Batista, conservador. Sabe que terá de refazer a vida.

— O senador Renan Calheiros respondeu ao recado que o sr. deixara no sábado?

Ele me ligou no domingo, quando tudo já estava resolvido. Contei rapidamente o que se passou. E ficou nisso.

— Não receia ser criticado por sua participação na fuga?

De jeito nenhum. Não convivo muito bem com a omissão. Prefiro o erro à indiferença. E não creio ter cometido nenhum erro nesse episódio.


Editoria de Arte - Folha de S. Paulo