4 de jul. de 2014

Empreiteira responsável por viaduto que desabou em Minas executa obras no Metrô do Rio e em Confins

BRASIL - Tragédia
Empreiteira responsável por viaduto que desabou em Minas executa obras no Metrô do Rio e em Confins
A seleção da Argentina passou pela Avenida Pedro I, e por baixo do viaduto que desabou, no dia 21 de junho para chegar ao Mineirão no dia que jogou contra o Irã. As outras seleções que jogaram em Belo Horizonte usaram outras vias para chegarem até o estádio.

Foto: Victor R. Caivano/AP

Durante a madrugada desta sexta-feira (4) foi resgatado o corpo da segunda vítima do desabamento do viaduto, em Belo Horizonte, Charlys Frederico M. do Nascimento, 25 anos, estava nas ferragens de um carro esmagado pela estrutura. Mais dois caminhões – sem ocupantes – e um micro-ônibus foram atingidos. A outra vítima era a motorista do coletivo, Hanna Cristina Santos, também de 25 anos. Outras 22 pessoas ficaram feridas no acidente.

Postado por Toinho de Passira
Fontes: O Globo, G1

A obra do viaduto que desabou na tarde desta quinta-feira em Belo Horizonte estava à cargo da Construtora Cowan, criada em 1958, no município mineiro de Montes Claros, no Norte de Minas.

A empreiteira executa atualmente obras do Metrô do Rio de Janeiro e de ampliação das pistas de pouso e decolagem do Aeroporto de Confins. Em seu site oficial, ela informa que já realizou grandes obras, entre rodovias, ferrovias, barragens, aeroportos e usinas hidrelétricas.

Entre as obras mais recentes, destacam-se a do BRT/Move da Avenida Pedro I e Antônio Carlos, na capital mineira, além da Linha Verde (que liga o centro de Belo Horizonte ao Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins), duplicações da BR-040 (licitada pelo Dnit antes do leilão), além do Gasoduto do Vale do Aço.

No fim da tarde desta quinta-feira, a Cowan, em nota oficial, lamentou o acidente e afirmou que, no momento, a prioridade é o apoio às vitimas e aos familiares. A empresa declarou ainda ter enviado uma equipe técnica ao local para iniciar as investigações. Em seguida, a empresa retirou seu site do ar, só retornando três horas depois, mas sem acesso a informações disponibilizadas anteriormente, como a estrutura da empresa e o histórico de obras.

O presidente da empresa é Saulo Wanderley e seu filho, Saulo Wanderley Filho, diretor-executivo; e o responsável pela construtora Cowan, um dos três segmentos da empresas, é Paulo Toller.

Em abril de 2012, uma denúncia publicada no GLOBO revelou que o Consórcio formado pela Cowan com a Delta Construções ganhou uma obra de R$ 170 milhões em Belo Horizonte antes mesmo de ser criado. Documentos mostravam que a gestão do prefeito Marcio Lacerda (PSB), de Belo Horizonte, assinou contratos para a ampliação das avenidas Antônio Carlos e Pedro I — onde o viaduto caiu — para a implantação do sistema BRT, três meses antes de o Consórcio Integração ser constituído e ter um CNPJ.

Nos documentos, há o CNPJ do contratante, a prefeitura, mas não há o número do favorecido. Isso porque o consórcio só foi incluído no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica três meses depois, em 12 de abril de 2011.

COMEMORAÇÃO NAS REDES SOCIAIS

Responsável pelas obras, a Cowan chegou a postar uma foto em clima de festa, no dia 17 de setembro do ano passado, comemorando o andamento da obra e dizendo ter “orgulho” de estar realizando aquela construção “histórica”. A postagem foi encontrada hoje por usuários que visitavam a página da empreiteira, logo após a tragédia, cobrando explicações. Um usuário chegou a escrever “A casa cairá pra vocês assim como o viaduto que construíram!”. O post foi deletado posteriormente.

ESCÂNDALO EM CONCESSÃO NO RIO

A empresa mineira envolveu-se num escândalo há dois anos com dois secretários do Rio. Em 2012, a concessão por 30 anos do serviço de coleta e tratamento de esgoto da prefeitura na Zona Oeste foi entregue ao Consórcio Foz/Saab, composto pela construtora Cowan e outras incorporadoras. O consórcio foi declarado vencedor da licitação, elaborada pela prefeitura, em janeiro de 2012; e para isso, pagou uma outorga de R$ 84,2 milhões. A concorrência abrangia 21 bairros da região, e o valor que cada morador pagasse pela conta seria em parte repassado ao consórcio responsável.

O acordo foi firmado quase um ano depois da empreiteira patrocinar uma viagem de lazer ao Caribe para então dois secretários do Rio: Sérgio Dias, do Urbanismo; e Wilson Carlos, Secretário do Governo. Os dois secretários e seus familiares teriam viajado no jato da construtora durante cinco dias, a convite de Saulo Wanderley Filho, dono da Cowan, e ficaram numa casa alugada na Ilha de Saint Barths. Na ocasião, a assessoria do governador Sérgio Cabral informou que a Cowan não tinha contrato com o estado desde 2007. Como participante de um consórcio, a construtora tinha vencido a licitação da Linha 4 do metrô, mas em 1998, em outro governo. Já a assessoria de Eduardo Paes disse que o secretário Sérgio Dias era amigo do casal e não tinha ingerência sobre a Cowan.

Os mesmos dois secretários estavam no grupo do governador Sérgio Cabral fotografado em Paris, em setembro de 2009, numa comemoração com o empresário Fernando Cavendish, ex-presidente da Construtora Delta. A empresa, na época, tinha vários contratos com o estado e com a prefeitura, além do governo federal.

No dia em que a reportagem foi publicada, 14 de novembro de 2012, o Ministério Público estadual abriu um procedimento para investigar possível ato de improbidade administrativa no caso.

Na época, a alegação do governo do Rio não ter informado sobre os negócios com a Cowam foi de não ter qualquer participação na licitação para o saneamento da Zona Oeste, realizado pela prefeitura.

Em seu blog, a colunista do Globo Flávia Oliveira cita que a Cowan também participa do Consórcio Rio Barra, responsáveis pelas obras da Linha 4 do metrô do Rio. As outras incorporadoras são Odebrecht, Servix, Carioca Engenharia e Queiroz Galvão.

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