ISTOÉ: Dilma sob pressão das ruas
BRASIL – CRISE Dilma sob pressão das ruas Onda de manifestações contra a presidente varre o País, leva a crise política para um novo patamar e impõe ao governo um cenário de incertezas Postado por Toinho de Passira Quando foi reeleita por uma margem apertada, em outubro do ano passado, a presidente Dilma Rousseff sabia que não teria vida fácil pela frente. Passados menos de 100 dias do início de seu segundo mandato, Dilma descobriu que tudo seria ainda muito pior. Em um período incrivelmente curto, a economia desmoronou, o escândalo do petrolão fez da corrupção o grande tema nacional, o Congresso decidiu ser oposição e até antigos aliados andaram açoitando as tentativas de correção de rumo anunciadas pelo governo. Nos últimos dias, a crise sem fim enfrentada por Dilma atingiu um novo patamar. As ruas resolveram gritar – e fizeram um barulho danado. A revolta começou com o panelaço do domingo 8, continuou nas vaias endereçadas à presidente em eventos oficiais, avançou pelos protestos da sexta-feira 13 e deve ganhar ímpeto extra nas manifestações generalizadas programadas para o domingo 15. A despeito do tamanho que os protestos possam vir a ter – e tudo indica que eles serão muitos –, a presidente terá daqui por diante que enfrentar seu desafio mais incômodo: a voz estrondosa de um contingente enorme de brasileiros. A nova onda de manifestações tem uma característica diferente dos protestos que tomaram o Brasil em junho de 2013. Daquela vez, a revolta começou com o aumento da tarifa do transporte público, que é responsabilidade dos governos estaduais e municipais. Depois, ela ganhou a adesão de tantos grupos que defendiam bandeiras tão opostas que acabaria se tornando difusa demais, a ponto de ser difícil identificar qual era o ponto que as unia. Agora, a situação é outra. O clamor popular tem dois alvos únicos e bem específicos. O primeiro atende pelo nome de Dilma Rousseff. O segundo, pela sigla PT. Uma amostra disso foi o panelaço em reação ao pronunciamento da presidenta no domingo 8, quando se comemorava o Dia Internacional da Mulher. Tão logo Dilma começou o discurso, no qual pediu “paciência” com o fraco desempenho da economia e a alta inflação, milhares de pessoas em ao menos 12 capitais foram às janelas de suas casas com colheres e panelas. O batuque feito com utensílios de cozinha foi reforçado por buzinas, vaias e xingamentos. Ao contrário do que aconteceu em junho de 2013, desta vez Dilma não tem com quem dividir responsabilidades. Ela é o foco. Não é preciso muito esforço para calcular os riscos inerentes a processos desse tipo. Depois que as manifestações populares começam, elas tendem a aumentar e ninguém sabe ao certo onde vão parar. Não é à toa que são chamadas de “ondas de protestos.” Pois funcionam exatamente como ondas, varrendo tudo e se tornando cada vez maiores e mais influentes.
Acuado, o governo tem defendido a tese do golpismo. Na semana passada, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, atribuiu o panelaço a uma iniciativa orquestrada pela oposição. “No Brasil, só tem dois turnos, não tem terceiro. A eleição acaba quando alguém vence, e nós vencemos”, afirmou. Mercadante chegou a dizer que os protestos estavam restritos a bairros onde Dilma havia perdido a eleição. A declaração foi acompanhada de nota do secretário nacional de Comunicação do PT, Alberto Cantalice, que classificou o episódio de “orquestração golpista” dos “principais setores da burguesia e da classe média alta”.
No dia seguinte ao panelaço, cerca de 150 empresários e representantes de todas as centrais sindicais se reuniram na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Antes do encontro, o tema das conversas foi o impacto das manifestações na popularidade de Dilma. Num ambiente majoritário de eleitores de Aécio Neves, o sentimento era um misto de insatisfação política com temor econômico. “Entendemos a revolta da população com o ajuste fiscal. Mas se essa fogueira pegar, iremos todos nos queimar”, disse Carlos Pastoriza, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Após duas horas, empresários e sindicalistas se uniram em torno de três bandeiras: contra os juros altos, a elevação de impostos e o excesso de gastos públicos. A redução dos subsídios fiscais às empresas foi lembrada pelo presidente da Fiesp, Paulo Skaf. “Não somos contra o ajuste fiscal, mas não abrimos mão da desoneração da folha de pagamentos”, disse.
No campo político, a tese do impeachment tem sido defendida por partidos de oposição, como DEM e Solidariedade (leia reportagem à pág. 48). O deputado federal Paulinho da Força (SDD/SP) espera colher assinaturas de 1 milhão de pessoas em prol da saída da presidente. “Estamos convencidos de que Dilma não tem mais condições de tocar o Brasil”, diz Paulinho. Para embasar o pedido de afastamento , ele está reunindo pareceres de um grupo de juristas. Foram consultados nomes como Adilson Dallari, Cássio Mesquita Barros, Sérgio Ferraz e Modesto Carvalhosa. Uma petição disponibilizada no site do partido acusa Dilma de “omissão culposa” na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, que teria ocasionado um prejuízo à Petrobras de US$ 800 milhões. Na ocasião, ela presidia o Conselho de Administração da estatal.
A desconfiança do eleitorado sobre a real capacidade de Dilma na recondução do País ao crescimento tem sido reforçada pela forma atabalhoada com que administra a economia. A falta de traquejo no trato com o Legislativo e os desdobramentos do escândalo do petrolão – que arrastaram o PT e sua base para o banco dos réus – completam o cenário desolador. Agora, o rosário de desculpas do governo está esgotando. O PT parece ignorar que Dilma foi eleita com 51,64% dos votos, o que por si só indica um cenário político polarizado. A última pesquisa do Datafolha mostrou que a popularidade da presidente despencou, enquanto sua rejeição subiu. Cerca de 60% dos entrevistados acham que Dilma mentiu na campanha, 47% a consideram desonesta e 54%, falsa. Outros 50% avaliam a chefe da nação como “indecisa”. * Com reportagem de Izabelle Torres e Ludmilla Amaral Fotos: Orlando Brito; Bruno Stock, Alberto Wu/Futura Press/Folhapress, Masao Goto Filho/Ag. Istoé; Clayton de Souza/Estadão Conteúdo; Movimento Xingu Vivo; Marcelo D’sants/Frame/Ag. o Globo |
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